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  • Israel Campos: “O céu de Angola está numa cor difícil”
    No passado mês de Fevereiro, Israel Campos estreou-se na escrita criativa e publicou o primeiro romance: "E o Céu Mudou de Cor". Um livro onde o autor explora as relações de afectividade entre primos, tios e amigos expostos aos conflitos geracionais, num país que continua à procura de respostas para os problemas e desigualdades sociais. Uma narrativa com uma força imagética, onde as mensagens chegam através de cartas de protesto, de amor, ou pelo voo dos pássaros. Uma aventura partilhada entre amigos que vivem encurralados num bairro sem esperança e que sonham chegar à “Cidade Baixa” que não está ao alcance de todos e onde reina a abundância.Uma homenagem aos jovens heróis de Angola que resistem aos desafios de um país que, vinte anos depois de ter alcançado a paz, continua a ter cidadãos a comerem no lixo. Israel Campos nasceu em Luanda no ano 2000. Aos doze anos, começou a carreira como locutor de programas infantis na Rádio Nacional de Angola. Formou-se em jornalismo na Universidades da Cidade de Londres, passou pelo jornal o País, pelo portal anticorrupção “Maka Angola” e hoje trabalha como freelancer no serviço em português da Voz da América e para o serviço mundial da BBC. Em 2021, foi eleito uma das 100 personalidades negras mais influentes da lusofonia.     RFI: Porque é que decidiu começar o livro com uma questão de saúde pública, como é o caso do lixo? Israel Campos: O que tentei fazer foi chamar à atenção para estas questões, que por serem tão constantes, tão frequentes, já não nos causam qualquer tipo de surpresa. São-nos indiferentes. Era por aí que eu gostava de começar. A questão da educação, a oposição entre o bairro, que não tem nada, e a “Cidade Baixa” que vive na abundância são também denunciadas pelo narrador, um adolescente.  Este romance pretende apontar o dedo à realidade angolana ou trata-se apenas de uma coincidência? Seria irónico eu sugerir que se trata apenas de uma ficção. É claro que este romance vive muito da realidade angolana, sobretudo, da realidade luandense que melhor conheço.  Às vezes eu fico confuso entre a ficção e a realidade quando eu trato de Angola. Mas, claro, que há uma intenção evidente. No entanto, eu não gosto muito de pensar que seja um livro puramente ideológico, uma ferramenta contra o regime. É um livro que reflecte algumas das várias vivências da nossa realidade [angolana]. Nesta obra explora as relações familiares recompostas.  Dois primos, a personagem principal e Mateus que vivem com a tia Antónia. Existe uma certa confrontação, nomeadamente entre Mateus e a tia Antónia. O que é que pretendeu destacar com estas personagens? Há uma intenção de explorar este tipo de relações que na nossa realidade são bastante comuns. Muitos são os sobrinhos que crescem em casa dos tios, por diversas questões: as deslocações na Guerra Civil; há sobrinhos que vão para casa dos tios mesmo tendo pais vivos porque os pais têm menos condições de vida. Eu quis captar estas relações que são muito importantes. A figura do tio, da tia, em Angola, é muito importante no crescimento da criança, ou dos jovens. Depois, há um evidente conflito de geração e vontades entre a tia António e o Mateus.  Por terem tidos vivências diferentes, olham para o país também de forma diferente, apesar de existirem alguns pontos de convergência. E o Mateus é, como muitos outros jovens que eu conheço desta nova Angola, um jovem inconformado, tentando buscar caminhos para compreender e fazer alguma coisa pelo seu país. Encurralados num bairro sem escola, sem oportunidades o narrador e amigo Marley aventuram-se num universo de mensagens que chegam por cartas e através de pássaros. É uma ode à cultura Umbundu? Também! Claro que nesse capítulo aparece um interesse de se explorar as várias relações que temos com as línguas nacionais. Nesse caso é o umbundo. Há essa discussão das línguas nacionais serem interpretadas por muitas vozes da nova geração como a língua dos mais velhos. Eu e as pessoas da minha geração não falamos porque nunca nos foi ensinado. Achei, por isso, que havia uma oportunidade de explorar e de ver o que dava. A associação que faço ao universo dos pássaros pareceu-me interessante. Eu tentei tratá-los como uma coisa real do dia-a-dia. Há voos de pássaros que nos encantam e que podem, eventualmente, trazer mensagens. Às vezes não trazem. É simplesmente um pássaro a voar. Mas às vezes tenho a sensação que os pássaros nos querem dizer qualquer coisa. Marley e o protagonista conseguem, de alguma maneira, fazer essa leitura que eu acho bonita. Há ainda uma carta que mais tarde se percebe que é de amor. Quis também tratar a questão da homossexualidade? Claro que pretendo tocar nesta questão que às vezes é um assunto que é ignorado, visto como tabu. Eu entendo que a literatura possa ser utilizada para disseminar ódio ou amor, para vários fins. Mas eu acho que a literatura tem o poder de humanizar a visão que temos sobre o outro. Parte do processo de humanização é reconhecer que existe um outro. E essa carta acaba por abrir esta conversa que julgo ser importante e que devemos ter. Na obra, há ainda a referência aos temas de impacto na sociedade angolana, como o caso que ficou conhecido pelos 15+2, encarnado, de certa forma por Mateus que, depois de ter fugido da “Cidade Baixa”, encontra o no Sr. Zé um aliado. Porque é que o Sr. Zé é branco? Porque existem angolanos brancos (risos). Se olharmos hoje para o Governo angolano, para a estrutura, existem governantes angolanos que são brancos mestiços. Quis passar a ideia de que há essa diversidade em Angola. E ele [o Sr. Zé] acaba por ser essa figura. O que o Sr. Zé traz, na verdade, é um discurso que eu estou acostumado a ouvir há muito tempo: pessoas que acham que é mais fácil mudar o país de dentro para fora. Porém, o que acontece, em muitos casos, é que essas pessoas mais ligadas à sociedade civil, ao mundo académico quando entram para o Governo e ocupam esses postos, mudam de forma muito radical e não concretizam essas promessas. A verdade é que o Sr. Zé é anti-sistema, mas acaba por beneficiar do sistema….   Exactamente, exactamente.  E é estranho! Convivemos com essa retórica. Foi isso que quis fazer, explorar essa ideia de pessoas entrarem para essas instituições com uma missão, mas acabarem por ser absorvidas por todos estes benefícios. Este livro fala ainda de jovens que se sacrificam por uma causa. Quis fazer uma homenagem aos jovens heróis de Angola?   Sim, eu penso ser importante manter a memória viva porque nós precisamos de compreender de onde viemos. A referência clara aos 15+2, surge exactamente disso. Eu acho que eles foram um grupo muito importante de influência e que abriram, de forma indiscutível, os olhos de muitos jovens- como eu-para as questões importantes do país e para a necessidade de não nos conformamos com o status-quo. Há ainda o médico Sílvio Dala que morreu durante a pandemia de Covid-19 por alegada brutalidade policial. Estas referências são importantes porque nos relembram situações que não se podem voltar a repetir.   Os efeitos da colonização e o que restou dela, a colonização moderna são denunciados no seu livro.  No prefácio, Alexandra Simeão diz que: “E o céu mudou de cor é uma fotografia dolorosa da realidade angolana 20 anos depois da paz ter chegado, Angola continua a ter cidadãos a comerem no lixo e o céu continua a não dar respostas”. Como é que está o céu em 2023, Israel? O céu de Angola está numa cor difícil. Olho com bastante preocupação para a realidade que nós vivemos hoje e ainda com maior preocupação para o descaso das autoridades. Sinto que fazendo parte da “geração da paz “tenho essa responsabilidade. Somos a esperança viva. É claro que não podia deixar de dizer que, apesar deste cenário que é realmente dramático, fico muito satisfeito por saber que muitos jovens entendem que a realidade em Angola não é boa e que precisamos de fazer esforços conjuntos para mudarmos. Isso é que me sustenta diariamente. É acordar e ver que jovens, nas mais diversas províncias do país, têm feito esforços nos sectores que podem, nas formas que podem, com os recursos que têm para minimizar o sofrimento de quem nos rodeia.
    3/21/2023
    13:01
  • "Nayola", o filme de animação que retrata Angola pela voz das mulheres
    O filme “Nayola”, a primeira longa-metragem de animação de José Miguel Ribeiro, retrata o impacto da guerra civil angolana na vida de três mulheres: Lelena (a avó), Nayola (a filha) e Yara (a neta). Inspirada na peça “A Caixa Preta”, de José Eduardo Agualusa e Mia Couto, com argumento de Virgílio Almeida, o filme mostra que "as guerras nunca terminam" e que as lutas por um mundo melhor se podem perder se as vozes se calarem. Em 1995, Nayola deixa a sua bebé Yara com a avó, Lelena, para procurar o marido desaparecido em combate, durante a guerra civil angolana. Em 2011, Yara é uma "rapper" e activista dos direitos humanos perseguida pela polícia. Dois percursos paralelos que crescem em duas linhas temporais que não se conseguem encontrar. Duas vidas que reflectem um país dilacerado pelas guerras do passado que contaminam o presente. "Ninguém volta da guerra", ouve-se no filme "Nayola", uma história que também é de esperança por um futuro melhor enquanto houver vozes comprometidas com um sonho comum. O filme estreou em França simbolicamente a 8 de Março, Dia Internacional dos Direitos da Mulher, vai estrear em Angola a 31 de Março e chega aos cinemas portugueses a 13 de Abril. Depois do circuito dos festivais e de ter conquistado vários prémios, o realizador José Miguel Ribeiro diz que o maior prémio é que os angolanos sintam o filme como deles e começa por descrever como é que a luta pela construção de uma família também reflecte a luta pela construção de um país. RFI: Como é que resume a história do filme “Nayola”? José Miguel Ribeiro, Realizador de “Nayola”: Nayola conta a história de três gerações de mulheres angolanas que resistem e sonham com um país melhor e lutam por um país melhor, bem melhor, e tentam no meio dessa luta conciliar aquilo que é a construção de uma família com a construção de um país. É uma história que se baseia no texto teatral "A Caixa Preta" do angolano José Eduardo Agualusa e do moçambicano Mia Couto. O que é que o levou a querer adaptar esta obra? Quando descobri a obra que me foi mostrada pelo Jorge António, um amigo realizador que vive em Angola há mais de trinta anos, foi ele que mostrou a peça de teatro antes de ela ser publicada. O que me pareceu interessante nessa peça de teatro era essa dimensão humana destas três mulheres e a forma como tocadas pela guerra, uma guerra imensa que foi a guerra da libertação - são 13 anos mais 27 anos de guerra civil - foi um percurso enorme de sofrimento do povo angolano. O que eu gostei na peça de teatro é essa dimensão humana e quando digo humana é porque todas estas três personagens têm as suas qualidades, mas também têm os seus segredos, os seus lados menos positivos e todas elas lutam e mostram-se de uma forma bastante humana. Essa dimensão humana das personagens foi uma das coisas que mais gostei, a forma como eles as escreveram, como nós tentámos depois também trazê-la de uma forma, se calhar, mais simbólica. Acrescentámos a viagem da Nayola ao passado, à procura de marido, que não existia na peça de teatro; introduzimos uma Medusa que é uma 'rapper' que também não existia como 'rapper' na história do Mia Couto e do Agualusa. Houve um trabalho de contaminação também da história de Angola e daquilo que nós fomos acompanhando: o caso do Luaty Beirão e dos 15 activistas que foram presos. Enfim, o filme demorou nove anos e durante esses nove anos o mundo não esteve parado, esteve sempre a mudar e casos como a morte de George Floyd foram casos que me influenciaram nas tomadas de decisões artísticas também. Falou da dimensão humana, mas há também uma dimensão militante muito forte de mulheres. A história anda à volta de três mulheres. Todas elas lutam à sua maneira: uma vai para a guerra; a outra faz rap e é procurada pela polícia porque, como diz um dos personagens "o rap é guerrilha" e o poder estava "com medo das músicas" dela. No quarto da Yara temos um cartaz a dizer "Feminists" e estreou o filme em França a 8 de Março, Dia Internacional dos Direitos da Mulher. Quis mostrar esta força das mulheres? Era necessário? Eu acho que sim. Continua a ser necessário. Infelizmente continuamos num mundo muito machista, onde o espaço das mulheres tem que ser conquistado com luta e com força e são, de facto, as mulheres que têm feito essa luta. Eu acho que é nossa obrigação - também homens - juntar-nos a essa luta e antecipar esse equilíbrio na sociedade porque já não se compreende como é que temos uma sociedade continuamente machista que impõe às mulheres um desgaste todos os dias de energia para conseguirem coisas que os homens já têm há tanto tempo. A música está sempre no filme. Até na guerra civil um dos soldados tem uma guitarra e na Luanda de 2011 do filme a Yara é uma "rapper" perseguida como já foi Luaty Beirão e tantos outros. No filme, conta com as vozes de Bonga e da "rapper" Medusa que dá voz a Yara. A cantiga como arma também guiou o filme? Sim, aliás, a música com que nós fechamos o filme é a música do Bonga 'Mona Ki Ngi Xiça', que foi uma música do primeiro álbum que ele já gravou na Holanda - quando teve de fugir do regime fascista português e refugiar-se na Holanda - e essa música por si só, e também todas as primeiras músicas do Bonga, eram essa manifestação de resistência e de luta. Primeiro, ainda contra o ocupante, o colonisador Portugal e, depois, a Yara, neste momento, é a luta contra a injustiça social que ela identifica no país e pelas quais ela se defende. A luta continua. A democracia e a conquista dos direitos e da justiça num país não é nada que se possa dizer que está conquistado e está garantido. É uma luta permanente, constante e talvez para os europeus é mais visível a de Angola, mas na Europa há muitas lutas também ainda a fazer e há muitas conquistas que se podem perder. Porque é que quis focar-se em Angola? Que memórias de África é que o levaram a querer fazer este filme sobre Angola? Eu cresci com álbuns do meu pai na Guiné-Bissau que foi militar das forças portuguesas na altura da guerra colonial - como muitos portugueses que não tiveram alternativa, era imposta essa permanência e essa luta contra as colónias. Eu cresci a ver álbuns do meu pai em cima de árvores, vestido de militar, com macacos ao lado. Imagens que eu, na minha inocência de criança, achava muito exóticas e muito distantes. Depois fui crescendo, felizmente tivemos o 25 de Abril em Portugal, a chegada da democracia, a independência das colónias, mas infelizmente fui acompanhando a guerra civil, especialmente em Angola e Moçambique, mas em Angola com mais violência e que durou ainda mais tempo. Angola não é propriamente um tema distante de mim, acho que de nenhum português. Mas conhecia muito pouco Angola, confesso, e quando comecei este trabalho tive que reconhecer a minha ignorância e fazer uma longa pesquisa de mais de cinco anos a ler tudo o que apanhava, a ler também altos autores para além do Agualusa, Pepetela, fazer a minha investigação pessoal para depois, já num processo criativo, poder fechar os livros, escutar a minha memória dessa experiência que foi longa e grande e onde aprendi muito. Aprendi essencialmente a sair da minha posição de ocidental porque essa é talvez a grande aprendizagem deste processo criativo de fazer este filme. É que em Portugal e na Europa continuamos muito limitados na capacidade de nos meter no lugar dos africanos. E quando lá estamos e quando começamos a aproximar-nos, aí é que vemos a distância entre aquilo que é o olhar de África sobre a Europa e o olhar da Europa sobre a África. É uma distância enorme. Vamos então ao processo criativo. As máscaras africanas são um padrão central no filme, mas também as cores quentes, os rituais, as pontes entre vivos e mortos. Como é que construiu o universo gráfico de Nayola? As máscaras influenciam a arte na Europa há muito tempo, desde o Picasso, com o Cubismo que teve influência das máscaras; o Modigliani que também utilizou muito as máscaras para um momento da criação da sua obra. Eu estudei essa arte contemporânea e não podia ficar indiferente à capacidade de síntese e à beleza e força gráfica das máscaras. Para mim, as máscaras africanas já me influenciavam nos meus filmes anteriores, antes de eu fazer um filme africano. Quando eu decidi avançar para este projeto, era óbvio que as máscaras tinham que ser centrais na construção dos personagens até porque elas também são referidas na própria peça de teatro do Mia e do Agualusa. Há um momento em que a Yara diz: "Toda a gente devia usar uma máscara que mostrasse aquilo que nós realmente somos". Com base nessa evidência, nessa presença das máscaras na peça, eu fiz uma pesquisa ainda mais profunda e tentei encontrar uma coerência para a utilização das máscaras e, até, do design das personagens que justificasse também porque é que usamos máscaras. Usamos as máscaras para nos proteger ou para nos mostrarmos? É um questionamento que eu faço no filme e desenvolvo, depois, graficamente as personagens. Parece que o desenho e as cores acompanham tempos paralelos. O passado, de Nayola, à procura do marido na guerra e no mato, e o presente, de Yara, em Luanda. Houve essa vontade de marcar graficamente diferentes universos e tempos? Sim, porque, na verdade, o momento presente é o pós-guerra, o passado é a guerra. Se há alguma coisa que a guerra tem é a intensidade. Tudo é intenso. Na guerra não há meio termo. O que se sente, o que se vive, o que se sofre, é tudo intenso e eu tentei graficamente mostrar essa intensidade com a utilização de uma paleta gráfica muito forte, com cores fortes como os amarelos, os laranjas, os vermelhos, os verdes puros, quase puros. Uma textura, também, sem ser muito trabalhada, crua, e um movimento a nível da animação. Usámos o 2D no passado e animação 3D no presente. Uma animação 2D também muito expressiva e muito intensa e, portanto, eu faço esse contraste entre um passado intenso e plasticamente marcante para um presente mais próximo do fotográfico, uma visão fotográfica com uma dimensão também mais real, se quisermos. É desse contraste que se cria a relação entre um país em paz e o país em guerra e como a guerra continua a tocar a paz do país, mesmo depois de já ter acabado. É esse zigue-zague porque o filme é construído com saltos temporais do presente para o passado exactamente para reforçar essa ideia de que o passado continua a influenciar-nos mesmo que já esteja um bocadinho distante. Uma das frases mais pungentes do filme é "Ninguém volta da guerra". Há também outra frase: "Lutam melhor os que têm belos sonhos. As armas também matam sonhos". Que mensagem é que quis deixar com este filme para a Angola de 2023? Eu acho que é para Angola, mas é para o mundo todo também. Eu acho que as lutas, as guerras nunca terminam. Aliás, eu estava agora a ver uma entrevista de uma viagem que fizemos a Angola em que estivemos a mostrar o filme. Estivemos  em Luanda, Benguela e Lubango e há uma das pessoas que nós entrevistámos que nos disse de uma forma que eu acho muito directa e muito visível que a guerra continua.  A guerra, claro que não tem se calhar essa dimensão de guerra no sentido de uma violência mais bárbara, mas é uma guerra de procura de um país melhor, de um país sonhado, das pessoas se reverem naquilo que é o seu país, de sentirem que estão a construir qualquer coisa que é um sonho comum e isso, para mim, é fundamental não só em Angola como no mundo todo. A guerra, essas batalhas pela justiça, pela paz, pela distribuição equitativa da riqueza, pela tolerância, são guerras todos os dias. A Yara representa isso, representa a nova geração de jovens comprometidos com um mundo melhor que não se consegue se ficarmos todos em casa. Esse mundo só se consegue quando as pessoas saem e mostram aquilo que querem e não se resignam àquilo que é a condição que lhes querem impor. Eu acho que essa luta, no dia em que nós nos calarmos, ela é perdida, portanto, é importante as pessoas ouvirem-se e fazerem-se ouvir. E o José Miguel Ribeiro não pretende calar-se... Teve antestreia em Luanda, em Fevereiro, e chega ao circuito comercial angolano no final de Março. Quando exactamente e como é que tem sido a recepção em Angola? Na semana que estivemos, e que foi uma semana muito intensa, estivemos com os produtores belgas, também nos acompanharam produtores franceses, com o Jorge António que vive lá e o Henrique, a Medusa também andou connosco. A sensação que tive foi que as pessoas primeiro se emocionaram muito e também se riram muito porque a cena do tio e do sobrinho, que afinal descobrem que estão a lutar em lados contrários, é uma cena hilariante no sentido em que as guerras muitas vezes sabemos como as começamos, mas depois já não sabemos bem porque é que elas existem, porque as pessoas às tantas estão todas a lutar do mesmo lado mas lutam umas contra as outras. O que me tocou mais também foi sentir que as pessoas sentiram o filme como um filme angolano. Um filme que é deles, que é a realidade de Angola, são as lutas deles e é a Angola do passado mas também uma Angola do presente e do futuro. E aí foi o que eu tentei também fazer porque a peça de teatro foi escrita pelo Mia Couto e pelo Agualusa algures em 2011 e esta dimensão mais actual trazida pela Medusa foi também uma intenção de não fazer um filme só a falar do passado mas que fale também do presente e do futuro. Os angolanos reveem-se neste filme, naquilo que são as suas lutas actuais também por um país mais justo, mais equilibrado, mais democrático. Enfim, o país é uma construção, nunca acaba, mas eu fiquei assim muito tocado de os ver falar do filme como se estivessem a falar de um filme angolano. Para mim, é o maior prémio que posso ganhar depois de fazer este filme, é sentir os angolanos a sentirem o filme como um filme deles, que é isso que eu tentei fazer. Quando é que o filme se vai estrear exactamente em Angola? Em Angola é 31 de Março. Em Portugal, sai a 13 de Abril. Em França, vai continuar, estreou na semana passada. Na Holanda, já há uma data de estreia também a 13 de Abril. Na Bélgica, ainda não está anunciada e irá sair também no Brasil. Estes são os países que eu posso confirmar hoje que vão fazer o filme sair em sala. Precisamente, o filme é uma co-produção com a Bélgica, França, Holanda e Portugal. Como é que foi viabilizado financeiramente e quanto é que custou? O filme teve um custo total de três milhões e duzentos mil euros, sabendo que nós em Portugal conseguimos arranjar 46% mais ou menos deste orçamento. Portanto, era preciso arranjar o resto. Um filme de animação com este valor nem sequer é um filme muito caro. Os filmes de longas-metragens rondam os dez milhões de euros na Europa, um preço médio, portanto, nós nem nos ousámos a fazer um filme muito europeu nesse sentido do preço. Agora, fomos criativos, trabalhámos com equipas, com pessoas muito talentosas em todos estes países. A vantagem da co-produção é que é um trabalho colaborativo, sempre, fazer um filme. Se tivermos coprodutores que nos entendem, que estão em sintonia connosco, como foi o caso, a JPL, a S.O.I.L e a il Luster são três produtoras que desenvolvem muito o seu trabalho com uma base muito grande de filmes de autor. Todos nós estávamos em sintonia que é uma obra artística aquilo que nós queremos fazer, não tínhamos ambições de fazer blockbusters e estivemos sempre muito em sintonia. Depois foi preciso distribuir o trabalho, dividir o filme, tentámos manter uma escala pequena na produção em cada país e em vez de concentrarmos em cada país uma parte da execução do filme como se costuma fazer: por exemplo, faz-se a animação num país, depois a intercalação noutro, depois a pintura noutro. Nós tentámos manter em todos os países estas fases, dividindo o filme, uma vez que o filme é um quase road movie, é um filme de percurso, com estilos gráficos também diferentes em vários momentos - temos pintura animada, desenho animado, 3D - fizemos essa divisão mais do princípio ao fim para cada país do que especializar cada país só numa fase da produção. Isso fez com que as equipas trabalhassem de uma forma mais próxima do filme, verem o segmento que é feito nesse país, a verem esse segmento do princípio ao fim a ser construído. Na verdade, trabalhamos muito próximo daquilo que é a forma de trabalhar quando se fazem curtas-metragens. O cinema de animação de autor em Portugal está a dar cartas. Houve o primeiro filme português candidato efectivo aos Óscars ,‘Ice Merchants’ de João González, algo que já podia ter acontecido com Regina Pessoa que chegou à short list dos Óscars. Com esta longa, você esteve no festival de animação de Annecy com este filme e já conquistou vários prémios em 2022. Ou seja, o cinema de animação de autor português realmente está a dar cartas, apesar de não ter assim tanto dinheiro? Eu acho que o cinema de animação é curioso porque ele inicia-se com o Abi Feijó num primeiro filme que ele consegue o apoio do Instituto Português do Cinema que, na altura, não tinha concursos só para a animação, portanto, os concursos eram para cinema na generalidade, ele consegue um primeiro apoio e ele e o Fernando Galrito são a geração que luta pelo apoio ao cinema em concursos separados da imagem real. Isso foi uma conquista enorme porque criou uma base financeira para a produção que tem dado resultados ao longo destes últimos anos e, portanto, há gerações de realizadores como o Vasco [Sá] e o David [Doutel], a Laura [Gonçalves] que fizeram um percurso como eu fiz. Eu comecei por trabalhar nos filmes do Abi Feijó, do Zepe e depois um dia comecei a fazer os meus. E a maior parte destes realizadores têm esta escola, que é não só as escolas que existem em Portugal e que ensinam o cinema de animação, mas depois quando entram no mercado de trabalho começam a trabalhar em filmes de outros realizadores até um dia terem a sua oportunidade e começarem o seu percurso como realizador. Essa conquista ao nível das curtas já existe e felizmente, à excepção do ano 2011 em que não houve apoio ao cinema, tem-se mantido regular. Agora, havia aqui o salto a dar para as longas-metragens que felizmente foi dado, há uma longa-metragem apoiada de dois em dois anos no ICA. É provável que nos próximos anos, com os candidatos que estão a propor e com o desenvolvimento do cinema de animação, faça mais sentido que o concurso em vez de ser bianual seja anual. Depois, há aqui um lado que nós não temos tão desenvolvido como a Espanha, que está aí mesmo ao lado, e que é a indústria do cinema de animação. A mim pessoalmente como realizador talvez não me interesse tanto, mas como produtor pode ser um caminho também para criar mais escala de produção, começar a trabalhar também para uma escala onde é possível mais facilmente encontrar mercado e dar oportunidade aos portugueses que são formados nas escolas portuguesas de poderem continuar a trabalhar em Portugal sem terem que emigrar. Porque o que acontece muitas vezes em Portugal é termos formação, temos já algumas escolas em várias zonas do país, mas quando o talento é grande, os animadores acabam a trabalhar para fora. Pronto, isso é uma conversa longa e podemos um dia falar sobre isso, mas parece-me a mim que o cinema de animação, ao nível do filme de autor de curta-metragem, é um cinema que já conquistou quase todos os prémios que existem, só falta mesmo o Óscar. No maior festival de animação de França, que é o festival de Annecy, a Regina Pessoa já ganhou esse festival, enfim, já tivemos realizadores nos maiores festivais do mundo. Agora, para mim, é este o salto que falta dar. As longas, demos o salto nos últimos anos. Saiu a minha longa no ano passado e saiu a longa do Nuno Beato também e irão sair outras em breve, há mais duas longas que estão em produção. Acho que as longas-metragens vão-se começar a afirmar. Para mim, a grande questão aqui está no salto das séries de animação, que Espanha é um país fortíssimo em séries e em França também é muito forte, e nós em Portugal é quase inexistente. Isso prende-se, julgo eu, com dois passos que têm que ser dados. Um que me parece que é o mais importante que é as televisões fazerem investimentos significativos na produção de séries de animação em Portugal, o que não acontece neste momento. O outro é também o ICA, Instituto Português de Cinema, começar a apoiar as séries de animação com valores mais substanciais porque uma série de animação não se faz com 500 mil euros. Uma série são vários episódios, dependendo da duração de cada episódio podem ser várias horas de programação e precisam de financiamentos que rondem os três milhões, no mínimo. Portanto, o custo desta longa é o mínimo de um trabalho de uma série com alguma dimensão. Julgo que é isso que falta em Portugal. Acho que as curtas vão continuar, as longas, espero eu, que se vão instalar e ganhar esse espaço que já estão a conquistar e falta este salto que é o salto da produção de conteúdos de séries. Coproduzido entre Portugal, França, Bélgica e Holanda, "Nayola" esteve em vários festivais em 2022, ano em que conquistou vários prémios, nomeadamente de Melhor Longa Metragem de Animação no Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, no México, no Animest Film Festival, na Roménia, no Manchester Animation Festival, no Reino Unido, no Anilogue International Animation Festival in Budapest & Vienna, na Hungria, no Afrykamera African Film Festival, na Polónia, (onde também conquistou o Prémio do Público). O Prémio do Público também foi para « Nayola » na Mostra de Cinema de São Paulo, no Brasil, assim como no Cinanima – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho, em Portugal. Houve, ainda, o Prémio BE TV da Melhor Longa Metragem da Seleção Oficial do Festival Internacional do Filme de Animação de Bruxelas (Anima), assim como o Cocomics Best Music e DHL Diversity prize no Bucheon International Animation Festival, na Coreia do Sul. O filme esteve, também, em competição na Selecção Oficial no Festival de Annecy, em França.
    3/14/2023
    28:08
  • Azagaia, "um dos melhores rappers da lusofonia"
    Morreu o rapper moçambicano Azagaia aos 38 anos. O anúncio foi feito ontem à noite pela Televisão de Moçambique Não foram avançadas as causas da morte do artista.Azagaia era um nome cimeiro da cena musical moçambicana, nomeadamente do espectro do hip-hop. De seu nome Edson da Luz é autor de letras de intervenção que lhe valeram o título de rapper do povo. As rimas de Azagaia são “dedos na ferida” na governação moçambicana. Em 2008 três dias após violentas manifestações que paralisaram Maputo, devido a aumentos de preços, Azagaia lançou "O povo no poder". Já não caímos na velha história / Saímos para combater a escória / Ladrões / Corruptos / Gritem comigo para essa gente ir embora / Gritem comigo pois o povo já não chora. Isto é Maputo, ninguém sabe bem como / O povo que ontem dormia hoje...perdeu o sono / Tudo por causa desse vosso salário mísero / O povo sai de casa e atira para o primeiro vidro / Sobe o preço do transporte, sobe o preço do pão / Deixam o meu povo sem Norte deixam o Povo sem chão. A música e a voz de Azagaia não têm espaço na rádio e televisão públicas. Foi várias vezes acusado de ser intérprete da oposição. Todavia Azagaia nunca poupou nada, nem ninguém nas palavras e nas críticas como se pode ouvir em “As mentiras da verdade”: E se eu te dissesse / Que a oposição neste país não tem esperança / Porque o povo foi ensinado a ter medo da mudança / Mas e se eu te dissesse / Que a oposição e o governo não se diferem / Comem todos no mesmo prato / E tudo está como eles querem. Filho de pai cabo-verdiano e mãe moçambicana, em 2014, Azagaia afastou-se dos palcos e pouco tempo depois anunciou que padecia de um tumor cerebral. Em Abril de 2016, voltou ao palco, mas desde essa altura permaneceu numa posição discreta no panorama artístico. O rapper moçambicano Duas Caras conheceu e trabalhou com Azagaia e ao microfone da RFI fala no desaparecimento de “um dos melhores rapper da lusofonia”. Azagaia é um dos melhores rappers da lusofonia e é uma figura incontornável da sociedade moçambicana. Deixa um grande vazio no hip-hop lusófono e em particular no hip-hop nacional. (...) Era um revolucionário, tinha uma abordagem sociopolítica bastante profunda, bastante abrangente. Em todos os países onde se fala português, praticamente todos conhecem o nome Azagaia. É uma grande perda para a cultura moçambicana, para o activismo político também. É uma voz que se cala, uma voz inconformada com as diferenças sociais no nosso país. Deixa um grande vazio.” Adriano Nuvunga, presidente do Centro Para Democracia e Desenvolvimento, sublinha que o legado de Azagaia irá permanecer para “a eternidade”. O povo moçambicano acordou com um sentimento de profunda tristeza pelo desaparecimento físico do seu mais querido filho que é o Azagaia, que soube pelo seu trabalho, pela sua voz, interpretar o sofrimento diário, a miséria e a fome causadas pela corrupção da liderança, da cúpula política deste país e, por isso, Azagaia é chorado por todos. Autor de músicas emblemáticas, apesar de estar retirado dos holofotes continuava a ser ouvido por toda a gente “e para a eternidade. Azagaia é um ícone da luta, é um ícone da resiliência do povo moçambicano perante as injustiças. As suas músicas são o instrumento que ele utilizava para galvanizar o povo moçambicano para continuar a lutar,” acrescentou.  Edson da Luz, o nome do rapper Azagaia, morreu, aos 38 anos, na quinta-feira à noite, em casa, na cidade da Matola, em circunstâncias até agora não esclarecidas.
    3/10/2023
    11:47
  • Pamina Sebastião: "Uso a arte como ferramenta do meu activismo"
    "Mestres do meu universo" foi a primeira exposição a solo da artista e activista angolana Pamina Sebastião, na galeria Jahmek. Trata-se da continuação do projecto que iniciou em 2019, um processo de auto-reflexão que se chama Só belo mesmo. Um projecto que passa por escritos, colagens e desenhos. Pamina Sebastião vive em Luanda é jurista e mestre em Direito Internacional e Relações Internacionais, dedica-se ao activismo há vários anos. "Antes de tudo sou activista e uso a arte como ferramenta do meu activismo", apresenta-se Pamina Sebastião. "Mestres do meu universo?" é a primeira exposição a solo da artista. Trata-se da continuação do projecto que iniciou em 2019, um processo de auto-reflexão que se chama Só belo mesmo. Um projecto que passa por escritos, colagens, desenhos. "A ideia é trazer algumas das perguntas ou dos questionamentos que tenho ligados à colonialidade do poder, ligadas às construções de categorias de géneros, da questão da sexualidade e trazer estas questões ao público", explica.  Pamina Sebastião acredita que houve "uma evolução entre o que pensamos ser o colonialismo, de um tempo histórico e a colonialidade, uma estrutura global que continua a alimentar categorias como a de género, de raça, de classe". Um exercício feito olhando para questões de raça, género, sexualidade como inscrições feitas ao longo do tempo sobre aquilo que chamamos corpo. Por outras palavras, Pamina Sebastião defende existir uma estrutura de poder alimentada por ideias "do que somos, do que é ser homem, do que é ser mulher... Uma estrutura racista, patriarcal, capitalista que alimenta estas categorias, para se manter no poder. É particularmente importante falar disto num contexto como o de Luanda, que não tem debates aprofundados de como é que o ideal da branquitude ainda continua a ser uma realidade e de como o racismo ainda acontece aqui". Pamina Sebastião fez parte de vários colectivos e organizações ligadas a questões de género e sexualidade: o Ondjango Feminista, o Arquivo de Identidade Angolano e o projecto LINKAGES Angola. Hoje faz parte também da direcção da The Other Foundation, uma organização LGBTIQ'+ regional fazendo também consultoria de estigma e discriminação a nivel nacional . No geral tem trabalhado num activismo focado em discussões de género e sexualidade.
    2/21/2023
    14:00
  • "Hápax" de Mattia Denisse no Le Grand Café em Saint-Nazaire
    Até ao dia 30 de Abril de 2023, o Le Grand Café em Saint-Nazaire, no oeste de França, acolhe a exposição "Hápax", do artista francês residente em Portugal, Mattia Denisse. A curadoria da exposição ficou a cargo de Anne Bonnin. Trata-se da primeira exposição pessoal numa instituição francesa deste artista que nasceu em Blois e se instalou em Lisboa há 24 anos.  “Hápax” significa uma palavra de uso único, à qual o artista atribui uma multiplicidade de caminhos e significados que se multiplicam numa infinidade de consciências. Enigmas, trocadilhos, jogos de palavras e de desenhos.  Para Mattia Denisse a exposição representa um “bom regresso” a França, num local que o “acolheu muito bem”. Trata-se de uma exposição essencialmente composta por desenhos, o meio preferido por Mattia Denisse “na medida em que é a expressão mais rápida do pensamento” Questionado sobre a ausência de legenda ou títulos junto das obras, o artista explica que será distribuído aos visitantes uma folha com a respectiva legendagem, todavia não se trata de uma explicação da obra, mas um complemento ao desenho. A curadoria da exposição ficou a cargo de Anne Bonnin, crítica de arte e profunda conhecedora da cena artística portuguesa.  Em 2022, Anne Bonnin assinou a curadoria das exposições "Modernités Portugaises” na Maison Caillebotte, em Yerres, perto de Paris e “Les Péninsules démarrées” no Frac Nouvelle-Aquitaine MÉCA – Bordéus. Em 2019, foi Anne Bonnin que organizou a primeira retrospectiva em França da artista portuguesa Lourdes Castro no Museu Regional de Arte Contemporanea Sérignan.  Ao receber o convite do Le Grand Café de Saint-Nazaire, a escolha de Mattia Denisse foi para Anne Bonnin uma evidência. “Conheci o Mattia em Portugal e esta exposição é, de alguma forma, o prolongamento, a continuidade dos trabalhos que fiz sobre Portugal.  O seu universo gráfico seduziu-me e, também, a sua imaginação alimentada pela literatura que eu também gosto, como o Alfred Jarry, a patafísica… esta dimensão surreal, esta relação com a antropologia e esta forma de a desenvolver e explorar. É um imaginário labiríntico que nos leva para histórias em que nos perdemos e nos reencontramos, é um mundo que também vem do inconsciente, mesmo que o Mattia prefira a palavra imaginário. Fui seduzida por este jogo, esta relação entre a língua e a imagem, muito livre, e de facto o desenho é uma forma de nos levar a mundos diferentes.  Eu gosto da forma como ele brinca com diferentes linguagens.” A exposição “Hápax” de Mattia Denisse com a curadoria de Anne Bonnin está patente, no Le Grand Café em Saint-Nazaire, no oeste de França, até ao dia 30 de Abril de 2023.
    2/15/2023
    8:57

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