O mundo tem "soluções" para os problemas climáticos, “falta vontade política”
Foi publicado esta segunda-feira, 20 de Março de 2023, o sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC). Um resumo de milhares de páginas sobre o aquecimento global do planeta e as suas consequências, as formas de atenuar os seus efeitos e de adaptação. Na apresentação do documento, Hoesung Lee, sublinhou tratar-se de "uma mensagem de esperança”. Lembrou o mundo tem "soluções" para os problemas climáticos, todavia “falta vontade política forte”.
Fruto de anos de trabalho, realizado por centenas de cientistas do mundo inteiro, o documento agora publicado reitera, mais uma vez, que é a acção humana a grande culpada pelo aquecimento global do planeta. Um planeta que está cada vez mais à beira do abismo.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apresentou o relatório como “um guia de sobrevivência para a humanidade”.
Por seu lado, o presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, Hoesung Lee, sublinhou tratar-se de "uma mensagem de esperança”. Lembrou o economista coreano que “a mensagem mais importante é que temos soluções. (...) sabemos como nos adaptar, como fomentar a redução de emissões. Temos o conhecimento, a tecnologia, os meios, os recursos financeiros e tudo o que é necessário para ultrapassar os problemas climáticos identificados”, todavia “o que falta é uma vontade política forte de forma a resolver o problema de uma vez por todas”.
Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista portuguesa Zero, sublinha que “o painel intergovernamental para as alterações climáticas não apenas nos dá o alerta, mas continua a reiterar um caminho possível para que não tenhamos um aquecimento global devastador como o que tem vindo a acontecer”.
Este relatório-síntese é fruto de um enorme trabalho científico, mas também validado por todos os governos. (...) As mensagens principais são realmente extremamente importantes. A primeira que gostaria de realçar é que ainda é possível - e isso é reiterado pelo relatório - não irmos além do aquecimento de 1.5° em relação à era pré-industrial.
O que é facto é que, neste momento, temos um consenso científico inegável sobre a urgência da crise climática: quais são as suas causas, quais são os seus impactos devastadores - principalmente nas regiões mais vulneráveis ao clima -, quais são os danos irreversíveis. Sabemos que não são as barreiras tecnológicas ou financeiras que põem em causa este caminho dramático das alterações climáticas, mas sim a vontade política.
Já estamos com um nível de aquecimento praticamente de 1.1° em relação à era pré-industrial. Sabemos que este caos climático está a causar estragos em vidas, em meia subsistência, na saúde, no bem-estar humano, nas infra-estruturas, na produção de alimentos e sabemos que cada grau conta.
Os efeitos serão muito diferentes se olharmos para um mundo que aqueça 1.5° ou que aqueça 2°. Nós estamos numa trajectória próxima dos 3°.
Confirmamos com este relatório-síntese que as emissões globais de gases com efeito de estufa podem ser reduzidas, pelo menos, 43% até 2030 em relação a 2019 e, pelo menos, 60% entre 2019 e 2035.
O painel intergovernamental para as alterações climáticas não apenas nos dá o alerta, mas continua a reiterar um caminho possível para que não tenhamos um aquecimento global devastador como o que tem vindo a acontecer.
Após uma semana de debates em Interlaken, na Suíça, as principais conclusões do grupo de peritos são:
A temperatura média do planeta vai aumentar 1,5ºC, em comparação com a era pré-industrial, até 2030-2035, devido à actividade humana. A projecção é válida em quase todos os cenários de emissões de gases com efeito estufa, porém "reduções profundas, rápidas e prolongadas das emissões (...) levariam a uma desaceleração do aquecimento do planeta em aproximadamente duas décadas". Os riscos climáticos são mais graves que o previsto: "Com o aumento inevitável do nível de água dos oceanos, os riscos para os ecossistemas costeiros, as pessoas e as infra-estruturas continuarão a aumentar após 2100". A questão das "perdas e danos" provocados por episódios meteorológicos extremos e da justiça climática são os temas mais delicados das negociações do clima a decorrer na COP 28, em Dezembro, no Dubai. Os anos mais quentes que vivemos na actualidade, serão os mais frescos no futuro próximo. Os últimos oito anos foram os mais quentes registados até hoje. Os benefícios de limitar o aquecimento global a +2ºC superam os custos: "Adiar as medidas de mitigação e adaptação (...) reduz a sua viabilidade, e as perdas e danos aumentam". Acelerar a neutralidade de carbono. Os países ricos devem antecipar suas metas de neutralidade do carbono "o mais próximo possível de 2040", em vez de 2050. Acelerar o objectivo é imprescindível para "desactivar a bomba climática", explicou António Guterres.