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Entrevistas sobre todos os temas relacionados ao meio ambiente. Análises sobre os principais desafios no combate ao aquecimento global, à poluição. Iniciativas ... Mehr
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  • Negociação de pacto global contra poluição de plásticos volta a opor países ricos e em desenvolvimento
    A elaboração de um tratado internacional da ONU para limitar a poluição dos plásticos esbarra na resistência de grandes produtores de petróleo e dos maiores consumidores do material, como os Estados Unidos. A segunda rodada de negociações do texto acontece em Paris e evidencia o tamanho do desafio para substituir os plásticos, baratos para a indústria e fonte de renda nos países em desenvolvimento, por alternativas menos prejudiciais ao meio ambiente. Lúcia Müzell, da RFIEm 2022, 175 países concordaram em iniciar a redação de um acordo juridicamente vinculativo sobre o tema até 2024. A primeira etapa ocorreu no Uruguai, e agora a França sedia o segundo de cinco encontros previstos até a finalização de um texto.A anfitriã, que planeja banir os plásticos descartáveis até 2040, quer fazer da cúpula uma vitrine para seus avanços e da União Europeia. Se restrições não forem adotadas em nível mundial, a tendência é que a produção anual deste derivado do petróleo siga em alta, num contexto em que apenas 9% do produto é reciclada. Sem controle, os plásticos poluem o meio ambiente, vão parar nos oceanos, são ingeridos pelos animais e já são detectados até no sangue humano. Além disso, servem de estímulo para a continuidade da exploração petrolífera, uma das maiores geradoras dos gases de efeito estufa que aquecem o planeta e provocam as mudanças climáticas.Mesmo assim, já no começo das reuniões, na segunda-feira (29), as discussões estiveram bloqueadas por dois dias por divergências quanto ao procedimento a ser adotado: um grupo de países, entre eles as potências emergentes China, Rússia e Brasil, e a maioria dos produtores de petróleo no Golfo, como Arábia Saudita, querem que o futuro tratado seja aprovado por consenso, e não por voto de maioria de dois terços, como desejam os países europeus."Nós queremos um acordo global que seja ambicioso, vinculante, que tenha metas da redução da poluição global. Tem toda a contribuição histórica que precisa ser lidada: os países que contribuíram mais têm uma parcela maior para ajudar a combater esse problema”, salienta o secretário nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental, Adalberto Maluf, que lidera a delegação do Brasil no evento."O Brasil sempre teve um papel importante nessas negociações porque não é um país rico – que quase sempre estão liderando a ambição dessas agendas e puxando a régua para cima –, mas também não somos um país pobre, que normalmente não quer avançar se não tiver recursos. Fazemos um papel de intermediação e negociação como a gente acabou de fazer aqui, para buscar o consenso possível. Não adianta ter a metade dos países dentro e todos os produtores fora”, explica.Temor de ONGsMas as organizações ambientalistas advertem que a necessidade de consenso obrigaria o texto a acomodar os interesses dos países produtores de petróleo e plásticos, resultando em um acordo pouco eficaz para limitar a poluição. Ana Rocha, diretora do programa de plásticos da coalizão de organizações Gaia (Global Alliance for Incinerator Alternatives), pela redução de resíduos, diz que se surpreendeu com a atuação do Brasil nos primeiros dias da reunião, que se encerra nesta sexta (2)."Ter a possibilidade de voto, no regulamento da ONU, faz com que um país com posição radical seja obrigado a negociar. Se ele pode simplesmente dizer não – que é o que ocorre quando a aprovação é apenas por consenso –, ele basicamente tem poder de veto”, observa. "Se você dá esse poder a todos os países, a possibilidade de se conseguir um acordo que seja minimamente ambicioso é praticamente nula”, lamenta.Com mediação do Brasil, os países concordaram em trabalhar em busca de um consenso, mas a decisão final sobre o procedimento ficará para outro momento. Assim, as discussões sobre o foco da cúpula – o rascunho do acordo – puderam enfim se iniciar, na tarde desta quarta-feira (31).Futuro dos catadores de lixoO secretário ressalta que, na visão do governo brasileiro, o tratado deve incluir soluções para a cadeia que depende da reciclagem do lixo nos países em desenvolvimento, em especial os catadores. O Brasil, com o apoio de países africanos, pressiona para que o texto inclua mecanismos de transição para a redução dos plásticos, inclusive financiamento, para viabilizar a inserção socioeconômica das milhões de pessoas que sobrevivem graças ao setor."O mundo desenvolvido não tem na reciclagem os mesmos desafios sociais e ambientais que nós temos. Por isso que, neste início de negociação, o Brasil foca muito em trazer as cooperativas de catadores para o centro do acordo”, argumenta Maluf. "Ele não é apenas um acordo ambiental: ele é um acordo de desenvolvimento sustentável."Mundo de olho no BrasilNo exterior, os outros países observam o posicionamento do Brasil, que visa retomar o protagonismo histórico que tinha na área ambiental – perdido durante o governo de Jair Bolsonaro. A negociação em Paris ocorre num momento delicado para Brasília, em que a política ambiental é posta à prova com os questionamentos sobre a exploração das reservas de petróleo na Foz do Amazonas e o esvaziamento dos poderes dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, orquestrado pelo Congresso.A pressão deve aumentar agora que a ONU confirmou a realização da Conferência do Clima de 2025 (COP30) em Belém do Pará."Essa posição do Brasil aqui se tornou uma decepção porque parece que, de várias maneiras, a pauta ambiental está meio caindo pelos lados. Eu acho que o problema aqui não é o Ministério do Meio Ambiente, mas sim é uma questão de equilíbrio do poder dentro do governo”, analisa Ana Rocha. "A gente está aqui com qual chapéu: o do meio ambiente ou o da produção?”, questiona.
    31.5.2023
  • Órgão pressiona França a reduzir rebanhos bovinos, “usinas” de gases de efeito estufa
    As emissões de metano da pecuária são levadas cada vez mais a sério pelos países comprometidos a conter o aquecimento do planeta. Na França, enquanto o governo lança um plano global para acelerar a queda de emissões de gases de efeito estufa, um relatório do Tribunal de Contas do país recomenda diminuir o número de vacas nas fazendas francesas, em especial as leiteiras.  O órgão ressalta que o setor responde por 11,8% das emissões de CO2 equivalentes no país – o mesmo que as geradas pela construção civil residencial. Desde os anos 1980, pelo menos, os efeitos nocivos da digestão dos ruminantes sobre o clima são conhecidos, mas foram ignorados pela agricultura e pelos formadores de políticas públicas. Em síntese, o processo digestivo do gado libera metano, que vai parar na atmosfera pelo arroto dos animais. O maior problema é que o metano tem um potencial de aquecimento 25 vezes superior ao do CO2.No setor leiteiro, mais da metade das emissões são deste gás perigoso. "O resto das emissões são de protóxido de azoto e o consumo de energia, incluindo os fertilizantes usados na alimentação do rebanho”, explica Jean-Baptiste Dollé, diretor do departamento de Meio Ambiente do Instituto da Pecuária. "Mas também devemos associar a estocagem de carbono da pecuária de leite, porque ao contrário das aves, por exemplo, o sistema digestivo dos ruminantes absorve carbono”, destaca.França lidera produção bovina na EuropaEntretanto, para o Tribunal de Contas francês, essa estocagem e a gerada pelas áreas de pasto natural estão longe de compensar o fato de que as emissões de metano da pecuária representam 45% do total de gases gerados pela agricultura. A França é a maior produtora europeia de carne bovina e soma 17 milhões de cabeças de gado. Cerca de um quinto dos produtores do país já se comprometeu a descarbonizar a produção, número considerado ainda distante do suficiente.Uma das providências recomendadas pelo tribunal é baixar os números do rebanho para 15 milhões até 2035 e 13,5 milhões até 2050, prevendo que o consumo de carne vermelha pelos adultos também deverá cair.As outras pistas de ação vêm da pesquisa e inovação, com foco na alimentação dos rebanhos. Uma das maiores escolas superiores de Agronomia na França, AgroParisTech, desenvolve experimentos com diferentes regimes alimentares na Fazenda Experimental de Grignon, na região parisiense. No local, a média de emissões de gases de efeito estufa para um litro de leite já baixou dos habituais 1,2 quilo para 750 gramas."Nós vemos que os produtos que testamos no laboratório funcionam, mas precisamos testá-los na fazenda, para saber se, do ponto de vista biológico, também dão certo. Nós vimos que, para o metano, alguns experimentos funcionaram muito bem no laboratório, com queda de 50% das emissões deste gás, mas infelizmente na hora de testar na vaca, tivemos 0,0% de queda”, afirma o diretor da fazenda, Dominique Tristant. "Em geral, apenas um teste a cada seis terá uma vida comercial viável”, lamenta.Regime facilita a digestãoNa região da Bretanha, a associação Bleu-Blanc-Coeur tem acompanhado os agricultores interessados em diminuir a pegada ambiental das criações de gado. Valentin Guillaumel, coordenador ambiental da iniciativa, orienta os produtores a incluir um composto de linho, canola e alfafa na alimentação das vacas."Tentamos encontrar uma fonte natural de ômega 3 além do encontrado no pasto, e as pesquisas demonstraram que o linho é eficiente. O ômega 3 pode reduzir as emissões porque a vaca consegue digerir melhor”, salienta.Ele explica que a ração é uma fonte de energia que a vaca ingere. "Uma parte dessa energia servirá para ela produzir leite e quanto mais a ração for eficaz, ou seja, quanto melhor ela a digerir, mais leite ela vai produzir e menos ela vai emitir metano. O metano é, na realidade, uma perda energética. A nossa ideia é reorientar alguns micróbios da digestão para reduzir o resultado de metano”, complementa.Outra pista para limitar as emissões do setor é o avanço das pesquisas genéticas, ainda em fase de desenvolvimento na França, para identificar os animais suscetíveis a soltar menos metano na digestão.As entrevistas foram concedidas a Pauline Gleize, da RFI em francês.
    25.5.2023
  • Chegada de El Niño ameaça ainda mais Amazônia e pode elevar temperatura global a 1,5ºC
    Quando a temperatura do planeta já está em alta e um fenômeno climático natural causa ainda mais elevação, o resultado pode ser devastador. Este é o temor de climatologistas que acompanham de perto a reaparição do El Niño, caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas do oceano Pacífico equatorial, e que deve se instalar com uma intensidade ainda não determinada ao longo dos próximos meses. O fenômeno já se manifesta na costa do Peru e do Equador e tende a desequilibrar o clima global, com aumento das secas em algumas regiões e das chuvas, em outras. Na circunstância atual, em que a temperatura média global já está 1,1ºC acima dos níveis pré-industriais, até um El Niño fraco, de 0,5ºC, se torna preocupante.O climatologista Alexandre Costa, pesquisador da Universidade Estadual do Ceará e integrante do IPCC (painel de cientistas da ONU sobre mudanças climáticas), lembra que os oceanos concentram 93% do excesso de temperatura gerado pelos gases de efeito estufa. O El Niño ‘libera' parte deste calor para atmosfera, em vez de armazená-lo."Em se tratando de um aquecimento anômalo na maior bacia oceânica do planeta, o calor acumulado nas camadas inferiores do oceano aflora e chega à superfície”, explica. "O aquecimento global não se reflete com um aumento linear da temperatura: ele costuma ser aos saltos, quando as condições favorecem – justamente quando o oceano libera mais o calor acumulado para atmosfera. E isso acontece particularmente em condições de El Niño. O que acontece é que grandes El Niño são capazes de contribuir com aumento de temperatura global de 0,3 a 0,4ºC”, salienta.El Niño também está mudandoÉ por isso que, se ele vier de moderado a forte em 2023 e 2024, seria capaz de instaurar um novo patamar mais elevado da temperatura global, ressalta Costa. "Uma coisa é quase certa: nós devemos ter um novo recorde de temperatura média global em associação a esse El Niño. Segunda coisa possível: que pela primeira vez a gente chegue ao patamar de 1,5°C de aumento, que é justamente o limiar de segurança preconizado pela ciência do clima e visto como o máximo desejado pelo Acordo de Paris”, destaca Costa.As interações entre o fenômeno e o aquecimento global, provocado pelas emissões de gases de efeito estufa, são objeto de estudo dos cientistas. O renomado climatologista José Marengo, também membro do IPCC e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), afirma que, como a temperatura média global está aumentando, uma anomalia de meio grau provocada pelo El Niño se torna mais intensa do que já foi no passado."Os El Niño estão cada vez mais diferentes. É um fenômeno natural, que continua a acontecer, mas tem algumas diferenças com os El Niño dos anos 1980 ou 1970, quando o planeta era menos quente”, compara.Risco de Amazônia mais secaO fenômeno modifica a circulação atmosférica na escala global, em especial nos trópicos. A região da Amazônia se torna particularmente vulnerável a essas alterações, ao receber ar seco que retarda e limita a ocorrência de chuvas.Numa floresta tropical úmida, isso significa risco maior de queimadas. O pico dos incêndios costuma ocorrer em setembro –  justamente quando a Organização Meteorológica Mundial prevê que o El Niño deve estar mais intenso.“O que já temos observado é que nas regiões do leste e do sul da Amazônia, a estação de menos chuva está ficando mais longa e a estação chuvosa, começando mais tarde. E se a estação ‘seca' é mais longa, o risco de incêndios é maior”, salienta Marengo. "Se existem queimadas e possibilidade de mais queimadas, as prefeituras, o estado e o governo federal já deveriam estar de prontidão, com bombeiros prontos para atuar. Mas para ser sincero, ninguém nos chamou até agora para falar sobre o El Niño que está vindo."Alexandre Costa relembra que em anos de El Niño forte, a seca elevou a mortandade das árvores da floresta que, ao se decomporem, emitiram ainda mais CO2. O ciclo acentua o risco de a Amazônia, em especial no sul e no leste, deixar de ser um sumidouro de carbono para se tornar fonte emissora – portanto, gerando ainda mais impacto negativo nas mudanças do clima.Os dois especialistas também chamaram atenção para o risco de aumento de temporais e enchentes no sul e sudeste América Latina, podendo atingir essas regiões no Brasil. “É preciso melhorar os sistemas de alertas e prevenção de desastres antes da chegada das chuvas”, adverte Marengo.
    24.5.2023
  • Explorar ou não ‘novas fronteiras de petróleo’, dilema complexo nos países emergentes
    Temos petróleo, mas não vamos explorá-lo. Diante da emergência climática, uma decisão como essa – que até pouco tempo atrás, era impensável – agora está sob a mesa de governantes de diversos países do mundo, em especial no chamado sul global. No Brasil, o futuro do projeto da Petrobras de perfuração da bacia sedimentar da foz do rio Amazonas, para a recuperação do óleo negro, simboliza o impasse delicado entre o desenvolvimento à moda antiga e a transição energética necessária. Os tempos mudaram em relação a 2006, quando o mesmo presidente Lula participou, eufórico, da descoberta das camadas de pré-sal pela petrolífera nacional – sem que, à época, qualquer questionamento ambiental viesse à tona. Agora, a decisão de explorar ou não o que está sendo chamado de a nova fronteira do petróleo no Brasil, na margem equatorial, coloca o governo petista em uma situação delicada. O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, não veem a hora de receberem o ok para o avanço do licenciamento ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) para o projeto. Entretanto, um parecer técnico do órgão não enxerga o plano com bons olhos, alegando pouca clareza quanto aos riscos de derramamento de óleo na perfuração, a 175 quilômetros da costa do Amapá. Um acidente poderia abalar a fauna e a flora marinhas, além de impactar comunidades indígenas em Oiapoque. A decisão final do presidente do Ibama, Ricardo Agostinho, é aguardada.  “Há um discurso infelizmente contraditório por parte do governo, que é o que a gente chama de paradoxo verde. O próprio ministro das Minas e Energia declarou recentemente que em função da transição energética que o mundo está passando e que o Brasil está e vai passar, o petróleo será menos importante lá na frente”, diz professor Roberto Schaeffer, professor de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doutor em política energética e membro do IPCC, o painel de cientistas da ONU sobre as mudanças climáticas. “Em certo sentido, começa a haver um movimento de acelerar o máximo possível a produção de petróleo hoje para não se ficar com o mico na mão, afinal há uma sociedade de consumo que demanda bens e serviços que ainda não conseguiu se livrar do petróleo e provavelmente não conseguirá nos próximos 20 ou 30 anos. E isso é uma enorme contradição: para lidar com a mudança climática, você eventualmente vai aumentar as emissões hoje para não ser o último a ficar com petróleo no chão, não explorado.” ONGs pedem fim do projetoO projeto foi licitado há 10 anos, junto com dezenas de outros blocos, mas até hoje nenhum poço foi perfurado na área. Agora, o plano foi acelerado em meio à perspectiva de queda da produção na bacia do sudeste a partir de 2030. Em abril, 80 organizações da sociedade civil, entre as quais as principais do país na área ambiental, reforçaram o pedido para o governo abdicar do projeto, apesar dos lucros estimados. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP) calculou em 2013, a reserva em questão, de número 59, poderia acumular 14 bilhões de barris.  As ONGs alegam que o início das obras, a cerca de 500 quilômetros da foz do Amazonas, poderia levar a “danos imensuráveis para o meio ambiente e para a população”. A aprovação também representaria uma incoerência em relação às promessas que Lula tem feito não só no Brasil, como para a comunidade internacional, de colocar o país nos trilhos de um desenvolvimento sustentável. No seu último relatório, o IPCC, painel de cientistas da ONU sobre as mudanças climáticas, reivindica que a “redução substancial no uso geral de combustíveis fósseis", como o petróleo, é necessária para o mundo zerar as emissões líquidas de CO2. Em paralelo, a Agência Internacional de Energia reconheceu em 2021 que o uso do petróleo deverá entrar em queda a partir de 2050 e defendeu que, diante dessa perspectiva, nenhum novo projeto de extração de combustíveis fósseis deveria ser aprovado. A jurista especializada em direito internacional do meio ambiente Marie Toussaint, deputada europeia, avalia que já passou da hora de esses alertas serem levados a sério. “É exatamente isso que precisamos fazer, segundo os cientistas mas também a Agência Internacional de Energia, que foi criada pelos pesos-pesados da energia – portanto está longe de ser uma ONG. Todos eles dizem que nós devemos parar, hoje, qualquer nova perfuração de gás e de petróleo”, ressalta. “O desafio é cessarmos a oferta enquanto, paralelamente, investimos no que poderão ser as alternativas a essa oferta.” Roberto Schaeffer pondera que o consumo atual de petróleo no mundo é de 100 milhões de barris por dia, número que deve despencar para 20 e 40 milhões em 2050 – sobretudo para a produção de plásticos e fertilizantes, e cada vez menos para uso em energia.“O mundo de agora até 2050 ainda precisará de petróleo. O caso do Brasil é muito claro: a maior parte do transporte de cargas e urbano no Brasil é com veículos a diesel – e esse diesel tem que vir de algum lugar. A transição para outros combustíveis, seja a eletrificação dos transportes ou biocombustíveis, não se dará instantaneamente”, salienta. “E é nesse contexto que o Brasil e a África viram uma fronteira, com petróleos de excelente qualidade, custo mais baixo e com impactos ambientais muito menores, ao contrário dos petróleos pesados canadenses e venezuelanos, e mesmo campos antigos no mar do Norte. Mas a questão é como fazer isso de maneira cuidadosa”, pondera. Países desenvolvidos x países em desenvolvimentoA questão é colocada para outros países em desenvolvimento, onde a descoberta de reservas de petróleo ainda é celebrada como fonte de esperança e crescimento econômico, a exemplo da Costa do Marfim, em 2022, ou em Moçambique, em abril passado. Em Uganda e Tanzânia, a construção de um gigantesco oleoduto de 1,4 mil quilômetros gera mobilização internacional de organizações ambientalistas. O pesquisador da Unicamp na área de bioenergia e eficiência energética Luiz Horta Nogueira observa que, não à toa, esse tema representa um dos desafios mais difíceis das negociações climáticas internacionais, como as COPs. “Nós temos uma discussão antiga, que não está superada, que é o fato de que os países desenvolvidos exploraram as suas energias fósseis, desenvolveram-se em cima desses recursos, e agora temos alguns países que estão começando a explorar esses recursos e vem alguém dizer ‘sinto muito, agora terminou a festa e vocês não podem’”, afirma. “A riqueza produzida pelos hidrocarbonetos não se traduz de uma forma simples em desenvolvimento para um país, como vemos na Nigéria, por exemplo. Foram muito mais exceções os casos em que isso aconteceu – e a Noruega é um bom exemplo. Mas agora estamos vendo a Guiana encontrar reservas importantes e pode ser hoje uma das principais fronteiras de expansão da produção de petróleo no mundo. Quem tem moral para dizer que a Guiana não deve fazer isso? Então que paguem para ela não explorar o recurso que ela tem”, comenta. Para Nogueira, o foco do debate deveria ser viabilizar a exploração responsável desses recursos, com rigor ambiental e minimização dos riscos graças à ciência, e durante o período em que a transição para um mundo sem petróleo ainda não estiver efetivada. “Certamente ainda tem muito a ser aprendido pela indústria do petróleo, incorporando uma cultura de proteção e evitar acidentes – que são graves e causam prejuízos enormes. É um tema importante em que é preciso buscar um caminho comum de diálogo: como compatibilizar necessidades de desenvolvimento econômico e social com proteção ambiental”, avalia. “Veja que num governo com um discurso superalinhado à questão ambiental, a exploração de petróleo do Alasca, uma das últimas reservas no território americano, está sendo definida pelo presidente Joe Biden”, destaca.  Enquanto isso, as grandes petrolíferas ocidentais estão cada vez mais pressionadas a se retirar de projetos relacionados a novos horizontes para o petróleo e o gás. No caso brasileiro, a francesa TotalEnergies e a britânica BP venceram a licitação de blocos da foz do Amazonas, mas acabaram abrindo mão das partes em benefício da Petrobras, que agora detém 100% dos contratos.“Quando observamos a realidade no terreno, vemos que quando as empresas vão embora e quando os bancos e seguradoras param de apoiar projetos, na maior parte das vezes, o projeto não vai adiante” afirma Marie Toussaint. “Temos uma ofensiva da China, em especial, mas também da Rússia, no continente africano. Eles financiam projetos que os europeus e ocidentais agora estão recusando, afinal são projetos devastadores demais.”
    11.5.2023
  • “O mar é a maior cena de crimes do mundo”, alertam especialistas em direito marinho na França
    Tráfico, danos ambientais, comércio ilegal. “O mar é a maior cena de crimes do mundo”, segundo as conclusões de um seminário sobre direito ambiental que reuniu mais de cem profissionais da área, entre os dias 27 e 29 de abril, em La Rochelle, no sudoeste da França. Por outro lado, apesar de concentrar inúmeras infrações à lei, a cooperação judicial entre os Estados em relação ao ambiente marinho ainda é incipiente e complexa, como explicam especialistas no setor ouvidos pela RFI. O mar representa 70% do nosso planeta e por ele passam diferentes tipos de crimes, observa Agnès Michelot, pesquisadora e vice-presidente da Sociedade Francesa de Direito Ambiental. “Sem dúvida, o mar é a maior cena de crime no mundo porque três quartos do planeta estão em zonas marítimas e todo o tráfico passa pelo mar. Tráfico de armas, de drogas, de escravos, danos ambientais e o comércio ilícito de espécies ameaçadas", cita. "Estamos num planeta majoritariamente composto de água marinha, ele é um vetor de criminalidade e também uma vítima, sendo a maior cena de crimes do m, segundo os pesquisadores, está assumindo uma dimensão global, pois há cada vez mais questões econômicas em jogo. "Toda essa criminalidade ambiental tem como objetivo o dinheiro. Então, para lutar contra todas essas formas de tráfico, é preciso lutar contra a lavagem de dinheiro, lutar contra o tráfico financeiro, pois há muitas formas de criminalidade que precisam ser levadas em consideração para um combate eficaz", explica Michelot.O evento na França reuniu acadêmicos, magistrados, promotores e policiais de vários países. As investigações mostram que o crime organizado no mar está se internacionalizando no mesmo nível do tráfico de armas ou drogas. É extremamente lucrativo e há poucas chances de os autores serem pegos. Para os defensores do ambiente marinho, é urgente aumentar a capacidade de repressão.Na França, além de uma forte demanda por formação de juízes em direito ambiental, os magistrados sugerem um melhor envolvimento da sociedade civil na denúncia de infrações para que as ONGs possam levar os casos à justiça. Envolver as populações nessa patrulha pela preservação do mar também é a solução apontada por Ronaldo Christofoletti professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Há tanta coisa acontecendo, é plástico, são produtos químicos, fertilizantes, mas na verdade tudo isso tem uma raiz. Ou duas raízes: uma delas são as atividades humanas que podem ser regulamentadas, basta a gente querer e colocar em prática o que a gente combinar, seguir as leis. E a sociedade tem que fazer força para que isso aconteça", alerta em entrevista à RFI. "É importante saber que não existe nenhum antagonismo entre a proteção da natureza e a economia", conclui. Cooperação se fortaleceEnquanto isso, a cooperação judiciária internacional está apenas começando. A Rede de Procuradores Europeus do Ambiente, criada em 2012, vai ganhando força e agora reúne membros de 32 países, além da União Europeia, que trocam informações, buscam boas práticas e refletem juntos sobre a definição de dano ambiental e as sanções previstas.Os dados mostram que as sanções são muito diferentes entre os países e que a criminalidade avança naqueles que não a punem, ou punem menos. "Nos Estados Unidos, as penalidades são muito mais substanciais e muito mais dissuasivas. Quem vai pescar ilegalmente em águas americanas? Ninguém", observa Agnès Michelot.
    4.5.2023

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Entrevistas sobre todos os temas relacionados ao meio ambiente. Análises sobre os principais desafios no combate ao aquecimento global, à poluição. Iniciativas para proteção dos ecossistemas e reflexão sobre políticas de prevenção de catástrofes naturais e industriais.

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