Partner im RedaktionsNetzwerk Deutschland
Höre Em directo da redacção in der App.
Höre Em directo da redacção in der App.
(16.085)(9.339)
Sender speichern
Wecker
Sleeptimer
Sender speichern
Wecker
Sleeptimer
StartseitePodcasts
Em directo da redacção

Em directo da redacção

Podcast Em directo da redacção
Podcast Em directo da redacção

Em directo da redacção

hinzufügen
Ouça aqui, em directo, os grandes temas do momento que fazem o pulsar da actualidade nos vários países.
Mehr
Ouça aqui, em directo, os grandes temas do momento que fazem o pulsar da actualidade nos vários países.
Mehr

Verfügbare Folgen

5 von 24
  • “O corpo é uma catedral” na Bienal de Dança de Lyon
    O espectáculo “Liberté Cathédral” constrói uma arquitectura humana, um edifício que dança e se equilibra em torno de gestos, contacto e sons. Esta é uma catedral que não tem paredes, mas que se ergue com os mais de 20 bailarinos porque “o corpo é uma catedral e liberdade”, resume uma das intérpretes, a brasileira Naomi Brito. A peça foi apresentada na Bienal de Dança de Lyon e é uma criação do Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, do seu novo director Boris Charmatz e da companhia Terrain. RFI: Como é que descreve esta peça?Naomi Brito, Bailarina: Esta peça é desafiadora. Muitos desafios, descobertas também. Porque é que o espectáculo se chama “Liberdade Catedral”?Do que eu entendi, para mim, são liberdades humanas dentro de todos esses padrões que a gente vive e, se construirmos coisas, a gente pode dizer que nosso corpo é a nossa catedral e a nossa liberdade.A peça está dividida em várias partes que também constroem o edifício de uma catedral. Primeiro os cânticos, depois os sinos, depois os órgãos, depois os silêncios e a música Fuck de Pain Away de Peaches, antes de tudo parecer desabar para se voltar a reerguer graças ao corpo colectivo. Como é que foi criar todos estes espaços e a evolução entre eles? Como eu disse no começo, foi desafiador. Eu acho que nunca cantei e dancei ao mesmo tempo e aqui a gente teve que aprender a fazer isso. Foi um processo muito desafiador e nasceu isto.Como é que vê o seu papel, a sua partitura nesta peça? Que emoções sentiu e quer partilhar com o público?O que eu senti? Liberdade? Essa desconstrução para construir. Eu senti isso.Aqui a catedral não é, de certa forma, o oposto de liberdade? A expressão da opressão, nomeadamente com o capítulo dos silêncios? Porque estes silêncios têm um peso… O que é que eles significam? [Naomi fica em silêncio] O peso do silêncio. Sentiu? Esse silêncio, na peça, parece remeter para os abusos sexuais na igreja…Isso… [Silêncio]A peça surge depois de termos vivido a pandemia e depois de os corpos terem sido obrigados a confinar-se e a afastar-se uns dos outros. O coreógrafo Boris Charmatz falou na frase bíblica de Cristo para Maria Madalena Noli me tangere [Não me toques], depois da ressurreição… Nesta peça, vocês tocam o público, vocês interagem com o público. É um apelo ao reencontro?Acredito que sim. É. Como é que o público reage? O público ainda está “preso”? É diferente o público a que a gente se apresentou em Wuppertal e o público aqui em França. Porquê? São seres humanos diferentes. Países diferentes também. Outra linguagem também. Tem esse distanciamento porque eu não falo francês. Mas tem esse almejo pelo encontro, tem. Existe.Como é trabalhar na companhia criada por Pina Bausch sem Pina Bausch?Eu acredito que trabalhar na companhia de Pina Bausch ainda tem Pina Bausch.O que subsiste de Pina Bausch? A presença dela ainda está lá. A presença dela…Como é que se transmite essa presença? São os bailarinos que ainda lá estão e que trabalharam com ela? Com certeza, sim. E energia.Esta é a primeira criação de Boris Charmatz para o Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, ele que é o novo director artístico da companhia. Como foi trabalhar com ele?Foi bom. Ele desafiou a gente a fazer muita coisa, fez a gente aprender muita coisa. Eu acredito que tem muita aprendizagem e desafios também.O que é que mais aprendeu? O que mais aprendi? Acho que trabalhar colectivamente, tão perto de pessoas, não sei, este colectivo tão junto. Eu acho que eu nunca trabalhei assim antes, com tanta gente, 20 pessoas. Colectividade, aprendi isso. Quando estamos a ver toda a peça, vemos um corpo colectivo, mas sentimos as emoções de cada bailarino individualmente. Como é construir esse corpo colectivo, partindo de cada um? O individual cria o colectivo. Cada um traz a sua história e a gente conta o todo.E como foi o processo de criação da peça? Parece que é tudo muito improvisado, mas está tudo escrito. Sim. A gente tem essa liberdade de construir o que a gente quiser com o nosso corpo, a mensagem que a gente quer passar, mas tem algo escrito que a gente tem que seguir. Por exemplo, seguir os sinos, dançar ao mesmo tempo que a gente está cantando, parar quando tem silêncio, começar de novo quando se canta de novo.Quando tocavam os sinos, a Naomi tinha um gesto repetitivo. Que gesto era esse? De um sino! [Risos] Eu não sei, pensei num relógio bem grande! Durante a sua vida, Pina Bausch quis integrar bailarinos diferentes, com formações diferentes, corpos diferentes. A Naomi é a primeira bailarina transgénero da companhia, que integrou em 2020. O que representa?É babado! [Risos] Não sei se essa palavra existe em Portugal, mas no Brasil a gente fala que é babado.O que é que isso quer dizer? Acho que não consigo traduzir. Significa muito para mim, mas também existe o peso de existir num lugar pela primeira vez, um corpo existir num lugar pela primeira vez. Então, é babado com esse peso de existir num lugar pela primeira vez. A dança pode contribuir para mudar o olhar das pessoas e para integrar corpos que até agora foram invisíveis?Com certeza, com certeza. Eu costumava pensar: se não for no meio da arte, onde é que o meu corpo cabe? Politicamente, mesmo não querendo, também acredito que eu sou um corpo político, mesmo não querendo ser. Mas eu acredito que sim. Com certeza. Ou seja, foi a arte que lhe deu o seu espaço?Sim, com certeza. Acredito que sim, mas eu também dei o meu espaço a mim mesma antes da arte. E para terminarmos, quando é que começou a dançar e o que é que a dança representa para si? Comecei a dançar com seis anos, em Paracuru, uma cidade no Brasil. Agora tenho 26. O que a dança representa para mim é estar viva. Dançar representa a minha vivência, esse meu almejo por continuar estando viva.
    23.9.2023
  • “Grand Bal”: Música para “dançar até morrer”
    “Le Grand Bal”, da companhia francesa Dyptik, é uma ode à liberdade pela dança e pela música. A peça, apresentada na Bienal de Dança de Lyon, inspira-se numa pandemia de dança, em 1518, na cidade de Estrasburgo, e mostra uma vontade furiosa de libertação com nove bailarinos em transe. O décimo é a própria música que ocupa todo o espaço da sala, numa experiência imersiva. A viagem sonora, para “dançar até morrer”, é assinada por Patrick de Oliveira que conversou com a RFI. RFI: Que grande baile é este? O que é que conta esta peça? Patrick de Oliveira, Compositor: Esta peça conta à vontade dos coreógrafos de transmitirem uma mensagem de libertação do corpo, mas também da mente. O objectivo principal nesta peça é tentar atingir um estado de transe e foi o que eu tentei também fazer com a música.Em todo o espectáculo, sob diferentes ritmos, ouvimos uma frase portuguesa que resume talvez a história do espectáculo. O que diz a letra e quem é que a criou?Quem a criou fui eu. Eu não sou poeta, mas precisávamos de uma letra que correspondesse ao máximo à dramaturgia. A letra é: “Para mim, para ti, eu não vou parar. Para mim, para ti, eu não vou largar. Para mim, para ti, eu vou continuar, até à morte se sentar no meu lugar.”O que é que isso quer dizer no âmbito da peça? A peça é um pouco isso. Do início até ao fim, os bailarinos nunca param, até estarem com um cansaço muito grande. É um fenómeno de grupo e da entreajuda e o objectivo é dançar até ao fim, até não poder mais, e é uma metáfora da vida.Dançar até morrer?Sim.O espectáculo é também um concerto coreografado, ritmado por música electrónica, techno, e a tal frase em português. Como é que descreve a música que compôs? Acho que você descreveu bem. Ao nível da música, eu tenho muitas influências e foi o que eu tentei fazer neste espectáculo. Já trabalho com esta companhia de dança - trabalho com várias - mas com esta companhia já há 12 anos...Desde que foi criada, então? Sim, desde a fundação e eles dão-me uma grande liberdade. Confiam em mim e eu tentei neste neste espectáculo pôr tudo o que eu gosto. Quer dizer, melodias, ritmo, passar de energia mais techno, mais electrónica, para passagens musicais mais tradicionais, com instrumentos mais tradicionais. E foi mesmo isto. Eu tentei mesmo fazer uma viagem. Uma viagem sonora que passa por várias paisagens.E que imagens é que ajudaram à criação dessa paisagem? Nota-se que a inspiração portuguesa esteve lá porque podia ter escrito em francês, mas escreveu em português. Que imagens é que lhe vieram à cabeça para criar e compor?No meu processo de criação, muitas vezes eu trabalho em directo com os bailarinos. Isto foi a inspiração principal para mim. Para mim é muito importante ver os corpos dos bailarinos. Um corpo, mesmo parado no palco, mesmo se não dança, ele vai-me inspirar. Eu acho que cada pessoa tem uma música. Você tem uma música, eu também tenho uma música. O trabalho é como ser uma mosca que vai passear no palco e tentar transcrever o corpo.Porquê escrever em português esta letra? Porque é uma letra que vai quase à origem da vida e da morte...Sim. Porque eu tenho raízes muito importantes. Portugal, para mim, está no meu sangue...Mas nasceu em França?Nasci em França, mas os meus pais são portugueses e sempre tive um... Não sei como é que se diz, mas você entendeu... Quero dizer que mesmo vivendo em França, tenho sempre o meu coração um pouco lá e o que a letra e o espectáculo conta fez-me pensar nas minhas raízes. Até agora, nos espectáculos que fiz com a companhia Dyptik, tentei abordar mais sonoridades orientais, também dos países de Leste e, desta vez, eu quis aproveitar para representar um pouco as minhas raízes e Portugal.Também há uma espacialização do som. Não é só do palco que surge o som, ele surge também do meio do público, do fundo da sala. Como é que funcionou e até que ponto é que a quarta parede do teatro não foi atravessada? Foi um objectivo desde o início da criação. Eu compus a música sempre pensando que no dia em que íamos apresentar este espectáculo em frente ao público, eu sempre tive na mente que a minha música tinha que ser imersiva. Foi o que tentei fazer com esta música, tentar mesmo fazer com que o público não se sinta no exterior, mas que se sinta mesmo dentro da peça. Claro que os bailarinos participam nisso e a música também. Foi este o objectivo: que o público não seja só público, que faça mesmo parte integrante do espectáculo.E o público dança durante o espectáculo? Para já não, mas acho que um dos objetivos vai ser isso.Um espectáculo, em geral, é uma obra de arte total, em que o jogo, a dança, o som, a luz exprimem ideias ou sensações, mas nesta obra sinestésica, neste grande baile ou último baile, a criação musical talvez seja a personagem principal... Ou não?Não sei se é a personagem principal, mas é um dos bailarinos!Nós acabámos por passar dois anos de pandemia que imobilizou os corpos, os prendeu em casa. Aqui, a peça parece contar um motim, uma rebelião de corpos contaminados pela febre da dança. A peça acaba por ser um apelo político à libertação colectiva pela dança e pela música? Sim, sim, é mesmo isso. O objectivo é mesmo esse. É mesmo um apelo à libertação. Estamos numa sociedade onde os corpos são cada vez mais oprimidos, prisioneiros, com a importância dos ecrãs, pronto, a sociedade actual... Mesmo se há lados também positivos nisso, é verdade que não há aquela libertação que podia haver há anos e foi isso que tentámos também transmitir.Também assina a composição sonora da peça “Intro”, da coreógrafa Mellina Boubetra, que é apresentada na Bienal de Dança de Lyon no âmbito da plataforma de artistas emergentes.  Como é que descreve esta paisagem sonora de “Intro”? É uma paisagem sonora muito mais electrónica, essencialmente electrónica. São três bailarinas. É uma peça também baseada muito sobre a energia e é uma peça que não é feminista mas é uma peça feminina. São três mulheres que dançam e é uma peça que podemos sentir várias sensações e emoções que passam pelo riso como por emoções um pouco mais fortes. Quando digo que é uma peça feminina, é óbvio que também é feminista, mas a Mellina não fez isso com esse objectivo.Tem duas peças para as quais assinou as composições musicais nesta 20ª edição da Bienal de Dança de Lyon. É compositor e músico autodidacta. Qual é o seu percurso nas artes do palco? Eu comecei aos 15 anos. Fui mesmo autodidacta. No início, foi tocar guitarra, piano, bateria, fiz algumas bandas com amigos. Fizemos vários concertos e os anos passavam e eu só pensava nisso. Tive um percurso que não tinha nada a ver com a música, fui professor alguns anos, mas eu não me sentia feliz. Sentia que não era a minha direcção, não era a vida que eu queria. Então, de um dia para o outro, decidi parar o trabalho, visto do exterior como mais sério ou mais estável, para tentar a minha sorte na música.Muito rapidamente, fiz os bons encontros no bom momento, foi um pouco de sorte também. Pude participar em algumas peças de teatro, algumas peças de dança e de uma peça à outra as pessoas começaram a ouvir a minha música e ficaram interessadas pela minha música. Comecei a encontrar cada vez mais pessoas que estavam interessadas no meu trabalho e já há 15 anos que faço essencialmente música para o teatro - é mais música cinematográfica quando é para o teatro - e também para a dança.Agora, já não faço concertos, mas pode-se ouvir músicas minhas em algumas plataformas digitais.Quer falar-nos um pouco sobre a sua ligação com Portugal? A minha ligação é uma ligação simples. Os meus pais são portugueses, emigraram como inúmeros portugueses nos anos 70 e a minha ligação é essa. Como muitos emigrantes também, eu ia lá muitas vezes durante o verão.No “Querido Mês de Agosto”?No “Querido Mês de Agosto”, mas eu preferia o mês de Julho! E agora que já não estou na secundária, já posso ir a Portugal noutros períodos que não só o Verão e que são os melhores períodos para descobrir realmente os portugueses e Portugal.
    22.9.2023
  • Quito Tembe acredita que se está a viver "momento histórico" na dança
    O moçambicano Quito Tembe, director da Plataforma Internacional de Dança Contemporânea KINANI, é um dos cinco comissários do fórum de curadores internacionais da Bienal de Dança de Lyon que vai preparar projectos para a próxima edição de 2025. O fórum é um espaço de reflexão de novas formas de criação e, na sua opinião, poderá “mudar a forma de se estar na dança” e é “um momento histórico” também para Moçambique. A Bienal de Dança de Lyon, dirigida pelo português Tiago Guedes, tem pela primeira vez um fórum de curadores internacionais que é um espaço de reflexão para criar novas formas de cooperação e para criar de forma colectiva. Foram convidados cinco comissários de Moçambique, Brasil, Austrália, Taiwan e Estados Unidos que vão acompanhar artistas dos seus países para apresentarem os seus projectos na Bienal de 2025. O programador moçambicano Quito Tembe é o director da Plataforma Internacional de Dança Contemporânea KINANI e é um dos comissários deste fórum.RFI: Que artista ou colectivo escolheu para co-criar um projecto a ser apresentado na próxima edição da Bienal de Dança de Lyon? Quito Tembe, Director da Plataforma Internacional de Dança Contemporânea KINANI: Essa pergunta é muito específica, mas eu gostaria de vos deixar na dúvida e na curiosidade porque justamente o nosso trabalho é acompanhar e contribuir para que a programação do Tiago [Guedes] seja feita de boa forma. Então, acho que essa resposta será dada mesmo por ele. A nossa missão, na verdade, é discutir, é reflectir e é buscar novas formas de mostrar, ou reflectir sobre novas formas de criação, e contribuir com este fórum para que a gente possa apoiar justamente a programação do Tiago.Por outras palavras, além do Quito Tembe, vamos ter artistas moçambicanos em Lyon em 2025?Certamente que sim. Acho que é estando aqui e tendo tido esta oportunidade que o Tiago nos deu. Deixa-me dizer que é confiar em nós, é confiar no nosso trabalho. E dar-nos esta oportunidade para a gente propor coisas aqui em Lyon abre outros caminhos e outras possibilidades e oportunidades para artistas moçambicanos. Como bem disse, não estou aqui em nome do Quito Tembe, estou aqui em nome de Moçambique, no fim das contas - para não dizer de África - e levar desta porta que o Tiago nos abre uma porta de oportunidade. Somente estar - deixa-me frisar isto - só este fórum montado por ele e estar neste fórum de discussão, só isso, já é uma oportunidade enorme e soberba de intercâmbio, de reflexão, de acolher e de partilhar diferentes temáticas artísticas.E também de integrar artistas extra-europeus neste festival eurocentrado? É muito ousado o Tiago! (Risos) Neste sentido, penso que é uma grande inovação de, não somente convidar artistas para pôr em pacotes, mas pôr num lugar de reflexão, num lugar de contribuir e tendo-nos posto este desafio também mostra esta abertura e sensibilidade para os diferentes lugares e continentes como os nossos. Estamos aqui para ouvir, não estamos aqui somente para receber o que é bom e o que é mau. Estamos dentro, isto é, eu estando aqui, estou dentro da mesa de reflexão para construção de uma programação colectiva.O objectivo da bienal com este fórum, segundo o seu director Tiago Guedes, é afastar-se das práticas de programação extractivista. Como é que isso vai ser feito na prática? Como é que vocês vão trabalhar? Eu penso que já começámos. O simples facto de estarmos os cinco sentados na mesma mesa e de vermos as diferenças da reflexão de cada um, de vermos as diferentes formas com que cada um de nós olha para este objectivo, isto já é um processo colaborativo imenso. E é extraordinário termos este processo de descer ou subir até aos artistas, de transmitirmos estas discussões para os artistas que nos põem a representar de uma forma mais ousada ou menos ousada. Já têm alguma linha de força, alguns temas que queiram trabalhar? Pode revelar-nos? Começámos com várias linhas de força. Acho que esta foi a grande conclusão que tirámos esta manhã, é que abrimos muito e fomos para além do que nos foi pedido. O trabalho que fizemos é justamente afunilar e encontrar um ponto de equilíbrio entre as diferentes formas de abordar este processo colaborativo para definirmos daqui para frente o que é que nós queremos como resultados destes encontros, não o resultado artístico ou resultado da mostra ou de uma programação, mas destes encontros artísticos, o que é que nós queríamos tirar como suco.Como é que surgiu este convite e o que representa para si? É um convite que me abre outras oportunidades, outras possibilidades e só estar neste grupo e com esta gente incrível, para mim, isto já é uma vitória muito grande. Como deve imaginar, Lyon é uma das maiores bienais do mundo da dança e, para mim, estar dentro deste fórum, vindo de um país que é Moçambique, que é lá naquele canto do continente africano, é para mim sem sombra de dúvida um motivo de muito orgulho e tanta honra que tenho de estar a discutir e a partilhar ideias com este fórum. Para mim, acho que 2025 vai ser um dos anos mais importantes na minha carreira, dizer que finalmente fiz parte, não só como público, mas fiz parte da reflexão de alguma coisa que não sabemos o que é que vai dar, mas só esta ousadia de estarmos juntos a reflectir mudanças de formas, de como fazer, para mim é um momento histórico.E como é que o Quito Tempo foi convidado?Tenho um percurso local em Moçambique a nível de abrir para a internacionalização muito grande. Isto permitiu-me estar aqui e, posso dizer isto com muito orgulho, que o que me permite estar aqui é o trabalho que tenho vindo a desenvolver ao longo de todos estes anos em Moçambique.Este ano estamos a celebrar a nossa 10ª edição da Bienal Kinani e que também é um dos anos mais importantes para nós porque vamos acolher a bienal ‘Danse l’Afrique Danse’ em Moçambique. Estes anos são anos - se fosse religioso eu diria de bênçãos! Estar aqui estar a ser entrevistado significa que soubeste que existe um Quito que está metido num grupo que está a fazer alguma coisa. Para mim,  são vitórias e é com muita satisfação que faço esta entrevista. Significa que já despertaram que existe alguém por detrás de todo aquele trabalho que acontece. Então é um motivo de muito orgulho.Este fórum poderá abrir portas para uma maior visibilidade das artes de palco moçambicanas ou é só uma gota de água no deserto? Não é uma gota de água, isto é uma viragem muito importante. Deixa-me dizer que a abertura que nós temos através deste fórum abre outras perspectivas. Se calhar estamos a mudar a forma de se estar na dança. Não estou a querer prometer nada e nem estou a querer divulgar nada, mas estou a dizer que a reflexão que está a surgir deste fórum pode mudar alguma coisa no panorama da dança contemporânea. E pode mudar alguma coisa na forma como nós fazemos as nossas programações, as nossas curadorias. É um momento histórico e é um momento importante. Vamos, sim, contribuir, não com uma gota, mas, se calhar, com um oceano!
    21.9.2023
  • A luta pelo teatro no Festival OFF Avignon
    O Festival OFF Avignon, paralelo ao Festival de Avignon, apresenta, este ano, quase 1500 espectáculos. Avignon é em Julho uma cidade-teatro, com dezenas de salas abertas para o evento, milhares de pessoas que rumam aos teatros e centenas de profissionais a tentarem sobreviver. O encenador, actor e produtor Renato Ribeiro vai há cerca de 30 anos a Avignon e falou-nos sobre a sua luta. As ruas da cidade estão forradas de cartazes atados por cordéis a anunciarem todo o tipo de peças. De manhã à noite, são os mesmos que sobem ao palco que deambulam nas ruelas para convencerem os que por ali passam a irem vê-los. O ritual repete-se diariamente e é a parte visível dos bastidores deste evento que ocorre paralelamente ao IN, o Festival de Avignon fundado por Jean Vilar em 1947. O Festival OFF nasceu em 1966 e é um dos maiores festivais de teatro na Europa. Este ano, junta quase 1500 espectáculos, em 141 salas, entre 7 a 29 de Julho.O português Renato Ribeiro vai ao OFF há mais de 30 anos, como actor, encenador e/ou produtor. Para ele, Avignon é uma vitrina e também o espaço onde se assinam contratos para a próxima temporada. Um grande mercado do teatro, feito de muito investimento e que, segundo ele, só dá frutos quando se é presença habitual e se conhece toda a rede de programadores.“Avignon não é só um festival, também é um mercado, o maior na Europa, onde a gente consegue mostrar os nossos espectáculos para as salas a nível nacional e que são bastantes. Só cá em Avignon é que a gente consegue ter esta vitrina para mostrar os espectáculos para que os profissionais e os directores de salas possam ver, gostar e comprar”, conta Renato Ribeiro, no café do teatro Le Cabestan onde apresenta uma das suas peças. Este ano, Renato apresenta dois espectáculos que encenou: "Belles Amies" e "G.E.E.K.", a primeira é uma “comédia dramática” e a segunda “uma comédia para toda a família”. Apesar de ser um grande investimento, Renato diz que vale a pena. “Avignon custa muito caro. É um custo muito grande para a produção porque temos os custos de criação, os custos de arrendar uma casa, de alugar o teatro, as deslocações e as comidas. É, no mínimo, 30.000 ou 35.000 euros. As entradas não chegam para a gente ter esse dinheiro. O que é bom para nós é esta vitrina e quantos mais teatros comprarem o espectáculo”, acrescenta. Filho de um casal que emigrou para França em 1969, Renato Ribeiro chegou a Tours com quatro anos. A paixão pelo teatro nasceu poucos anos depois e, aos dez, teve uma professora na casa dos pais a tentar convencê-los a deixarem o filho entrar numa peça de teatro da sua companhia. “Foi o meu primeiro contrato de actor. Aos 10 anos. E fiquei nessa companhia até aos 18”, lembra.Depois, foi para outra trupe na Normandia e, depois, Béziers. Seguiu-se Paris, onde foi actor, encenador e, mais tarde, director do espaço “La Comédia”. Entretanto, criou a própria produtora que “produz em média de 45 espectáculos por ano” e, actualmente, vive entre Portugal e França. Lisboa foi a partir de 2012, quando quis conhecer suas raízes e acabou por lá ficar oito anos. Deu aulas de teatro, foi colaborador de uma editora e chegou a trabalhar com Tiago Rodrigues, o actual director do Festival de Avignon, na direcção de actores em língua francesa. Renato também produziu espectáculos e agora, está a tentar abrir caminhos para o cinema a partir de Portugal. Quanto a Avignon, vai continuar a ser a “utopia do teatro popular” e o epicentro do seu trabalho.
    19.7.2023
  • Marina Gomes leva os bairros pobres para o palco de Avignon
    Na fronteira entre dança hip-hop e teatro, o espectáculo de dança 'Asmanti [Midi-Minuit] mostra a vida nos bairros pobres. Esta é uma peça assumidamente política de Marina Gomes, coreógrafa e bailarina, para quem é uma conquista “levar o bairro para a cena” de Avignon. O objectivo é lutar contra o olhar exterior que “desumaniza” as pessoas que vivem nesses bairros. O espectáculo está no Festival OFF Avignon até 20 de Julho. RFI: O que conta o espectáculo 'Asmanti [Midi-Minuit]?Marina Gomes, Coreógrafa e bailarina: Esta peça trata da vida nos bairros populares que têm momentos bons e outros mais violentos e difíceis.O espectáculo é muito actual e está em Avignon pouco tempo depois da morte de Naël, um jovem assassinado pela polícia. Este espectáculo é também político?Claramente. É actual, mas também de todos os tempos porque já há dois anos outro jovem foi assassinado e também noutros anos. Nada de novo. Por isso é que esta peça, infelizmente, é de todos tempos.O que significa este título do espectáculo 'Asmanti [Midi-Minuit]?Significa “Mon ciment” em francês, “o meu cimento”. Para mim, é algo que pode construir, mas também algo de onde não se pode mover e do meio-dia à meia-noite é o tempo em que se compra a droga nos bairros.É por isso é que escolheu um espectáculo encenado como um plano-sequência?Sim.Mostra-nos a sua visão dos bairros sensíveis onde viveu e onde vive. Que espaço é este de prisão e cimento, espaço de jogo, lugar de abertura, de fecho?É um lugar de onde há muita gente, muita gente fora. Muitos momentos para rir, para jogar, futebol, há muita coisa…Momentos para dançar?Também, porque o hip-hop é uma dança de rua. É muito importante, o hip hop tem de estar nos bairros, agora há em muito hip hop nas salas de dança e não tanto na rua. É muito triste.Foi na rua que aprendeu a dançar? Sim e não. Aprendi ballet e dança contemporânea no conservatório. Mas o hip hop na rua, com amigos.Como é que a dança pode emancipar quem vive nos bairros pobres?Na dança é onde estamos super juntos. Falamos muito, fazemos espectáculos noutros lugares, encontramos outros bailarinos. É uma maneira de contar coisas a mais gente.E de ser ouvida?Sim, em Avignon sabemos todos que é uma cidade burguesa com o mundo da cultura, que não é o mundo dos bairros, e a gente da cultura está connosco. E isso é incrível para mim: levar o bairro para a cena.Além da dança, a música tem um papel central na peça. Começa com reggae e depois vai para a música electrónica que se vai intensificando. Como é que foram as escolhas e a criação?A composição é de Arsène Magnard. Sim, o que quero é uma composição como na música do cinema, dos filmes, é muito importante. Porquê? Eu não conheço muito o teatro, mas vi muitos filmes.O que significa para si estar em Avignon? Uma oportunidade porque o que pode acontecer depois disto é levar a peça para o mundo.É um espectáculo na fronteira entre hip-hop e teatro. Porquê este cruzamento entre cultura urbana e clássica?É muito natural. Para mim, no bairro, falamos muito, rimos muito e, para mim, se for só dança falta algo. E também o texto, na parte do rap, que é de Jul [rapper]. Para mim, isso é importante, falar como se fosse algo clássico, mas não, é rap.É coreógrafa e bailarina. Está agora em Avignon. Esta é a sua primeira peça. O que é que a levou a escrever esta primeira peça? Contar a minha vida e também para as pessoas conheçam o meu mundo porque se há tanta gente que tem medo dos jovens dos bairros é porque não os conhecem.Sente-se injustiçada, de certa forma?Este medo, que é também para mim algo político, é muito perigoso porque há gente no bairro que pode morrer assim como o Naël, como se não fossem seres humanos, como se fossem uma ameaça. Falamos de desumanização das pessoas dos bairros. Para mim, é muito perigoso. Então, era necessário levar as pessoas a terem um olhar diferente, mais humano.Qual é que tem sido o seu percurso até agora nas artes do palco? Comecei no ballet aos quatro anos numa pequena escola. Depois, o Conservatório de Toulouse em ballet e dança contemporânea. Depois estudei psicologia, tenho oito anos na Universidade de Toulouse porque o meu pai queria que eu tivesse algo sério porque a dança não é um trabalho na minha família.Mas, agora, quando o pai – português - a vê no Festival OFF Avignon, o olhar muda?Sim, sim. Quando disse ao meu pai que ia fazer uma entrevista em português, ele disse-me, pela primeira vez, que tinha muito orgulho. E durante cinco anos fui psicóloga na protecção da infância em Paris.Mas nunca abandonou a dança…Não, não. Nunca.O que é que aconteceu para agora se dedicar inteiramente à dança? Fui para a Colombia para um ano sabático e no momento de voltar para França senti a necessidade, que era o bom momento. O destino.É filha de um português. Mantém uma ligação com Portugal?Há alguns anos que não vou a Portugal mas, este ano, em Agosto vou voltar à minha aldeia, Apúlia, ao lado do Porto. A minha família é de Braga e desde a minha infância vamos, todos os anos, à Apúlia.
    13.7.2023

Über Em directo da redacção

Ouça aqui, em directo, os grandes temas do momento que fazem o pulsar da actualidade nos vários países.
Podcast-Website

Hören Sie Em directo da redacção, Hitradio Ö3 und viele andere Radiosender aus aller Welt mit der radio.at-App

Em directo da redacção

Em directo da redacção

Jetzt kostenlos herunterladen und einfach Radio hören.

Google Play StoreApp Store

Em directo da redacção: Zugehörige Sender