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Um pulo em Paris

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  • Com ancestrais na França, Leão XIV já é considerado 'o mais francês dos papas estrangeiros'
    A maioria dos católicos franceses, praticantes ou não, ficou agradavelmente surpresa com a escolha do americano Robert Francis Prevost para comandar a Igreja neste momento de guerras ao redor do mundo e incertezas sobre o futuro. Devido ao sobrenome de origem francesa, o papa Leão XIV está sendo considerado por genealogistas "o mais francês dos papas estrangeiros". O perfil multicultural do novo chefe da Igreja Católica, nascido em Chicago (EUA), de mãe espanhola, pai franco-italiano, e ainda moldado pela longa experiência missionária no Peru – e nacionalidade peruana –, foi acolhido com otimismo. Reportagens realizadas nesta quarta-feira (9) em igrejas e escolas católicas, em várias cidades francesas, mostram que a maneira como ele se apresentou ao público, no Vaticano, agradou.O novo líder dos católicos apareceu no balcão central da Basílica de São Pedro com uma fisionomia serena, sorridente, mas ao mesmo tempo visivelmente emocionado. Já na primeira frase, ele falou de paz, gerando muita empatia com o público. Os franceses gostaram de ouvir que ele irá atuar para "construir pontes" de diálogo, em busca de "justiça e paz". Nesta quarta, Leão XIV celebrou a primeira missa de seu pontificado, apenas para os cardeais que o elegeram. Na homilia, ele lamentou o "declínio da fé", preterida em favor de "outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer". Para os praticantes que seguem o evangelho, acreditam na fraternidade e rejeitam o individualismo, esse discurso faz sentido. O jornal católico La Croix, bastante respeitado no país, afirmou em seu editorial que ao levar esse religioso americano de 69 anos para a chefia da Santa Sé, "os cardeais confirmaram a escolha de uma Igreja aberta, multicultural, globalizada e mais do que nunca comprometida com sua doutrina social", em continuidade à abertura iniciada pelo papa Francisco. A maioria dos católicos franceses quer que o pontífice americano continue trabalhando nessa direção.   Ancestrais francesesPrevost é um sobrenome de origem francesa bastante comum. Com isso, o papa Leão XIV está sendo considerado "o mais francês dos papas estrangeiros". Desde ontem, genealogistas começaram a pesquisar os ancentrais do novo chefe da Igreja e acharam muitas informações. Apesar dele ter nascido nos Estados Unidos e do avô paterno ter origem italiana, a maior parte da família da avó paterna vem do noroeste da França, principalmente da Normandia. Segundo o genealogista Jean-Louis Bocarneau, que disse ter passado cinco horas na última madrugada pesquisando a árvore genealógica de Leão XIV, o papa tem ancestrais pelo lado materno que foram sapateiros em Nova Orléans, mas provenientes do oeste da França. Existe ainda uma ramificação da família em Marselha, no sul, e parentesco com alguns famosos. Leão XIV seria um primo distante da atriz Catherine Deneuve e do escritor Albert Camus. Desafios do pontificadoEspecialistas no Vaticano e católicos dizem que um dos maiores desafios de Leão XIV será a unificação da Igreja, impactada pelas divisões internas entre ultraconservadores, conservadores e progressistas. A polarização aumentou durante o pontificado de Francisco, e Leão XIV precisará encontrar maneiras de promover a unidade sem abandonar o legado de abertura do papa argentino.O La Croix traz uma lista de 12 trabalhos do papa Leão XIV, como se fossem os 12 trabalhos de Hércules, que envolvem, entre outros questionamentos, o lugar de mulheres e laicos na Igreja, uma abertura iniciada por Francisco em cargos administrativos, mas considerada insuficiente. Questões de ética sexual e familiar, como o acolhimento de famílias homoafetivas na Igreja e o enfrentamento dos escândalos de abusos sexuais, continuam muito sensíveis.Leão XIV precisará se posicionar sobre questões globais, como as mudanças climáticas, guerras, migrações e a pobreza extrema. Reafirmar os laços entre o Cristianismo e o Judaísmo, mantendo um posicionamento equilibrado sobre o conflito na Faixa de Gaza. Como pontífice americano, Leão XIV terá de ser cuidadoso com o presidente Donald Trump e com seu vice JD Vance, que ele criticou publicamente nas redes sociais antes de ser eleito. Outro dossiê urgente é sanear a crise financeira no Vaticano, que teria registrado um déficit de € 87 milhões (€ 554 milhões) no ano passado, segundo estimativas não oficiais. As receitas estão em queda há vários anos e existe um problema crônico de má gestão na Santa Sé, que o papa Francisco começou a tratar, mas não resolveu totalmente.
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  • Estudo: 15% dos franceses já testaram relacionamentos abertos, número em constante progressão
    Os franceses e francesas estão cada vez mais adeptos aos relacionamentos abertos. A quantidade de casais que adotam esse modo de se relacionar ou dispostos a esse tipo de experiência vem aumentando no país, enquanto as identidades sexuais também evoluem. Daniella Franco, da RFI em ParisSegundo uma pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) para o aplicativo de encontros extraconjugais Gleeden, as relações “alternativas” vêm atraindo cada vez mais adeptos no país. Embora a monogamia seja majoritária (65%), 8% das pessoas entrevistadas afirmam estar atualmente em um relacionamento aberto.Em 2017, apenas 1% dos franceses afirmava seguir essa tendência, o que mostra um aumento de 7% em relação a 2025. Além disso, 15% das pessoas entrevistadas pelo Ifop afirmam que já estiveram em um relacionamento aberto.O número é ainda maior quando o balanço se concentra nos parisienses. Na capital francesa, 17% dos homens e mulheres acima dos 18 anos afirmam estar em um relacionamento aberto atualmente. Mas 23% das pessoas entrevistadas e que vivem em Paris dizem que já fizeram parte de um casal poligâmico em algum momento da vida.Para o diretor do pólo Gênero, Sexualidades e Saúde Sexual do Ifop, François Kraus, a discrepância entre Paris e o resto da França não é surpreendente. “O casal livre é algo mais valorizado socialmente nos meios progressistas”, analisa o responsável pela pesquisa, François Kraus, em entrevista ao jornal Libération.De fato, a capital francesa, administrada por uma mulher, a prefeita Anne Hidalgo, do Partido Socialista, vota tradicionalmente em partidos progressistas e de esquerda. O posicionamento político, aliás, é uma característica relevante para os adeptos do relacionamento aberto. A maior porcentagem dos parisienses que já estiveram em um casal poligâmico é registrada entre simpatizantes do partido da esquerda radical França Insubmissa (32%).Jovens e gays: perfil dos adeptos aos relacionamentos abertosO estudo do Ifop confirma o que outras pesquisas já vêm mostrando nos últimos tempos sobre a sexualidade da população francesa. Os adeptos dos relacionamentos abertos são principalmente adultos jovens, na faixa dos 25 aos 34 anos (23%).Além disso, quase a metade dos casais não-monogâmicos hoje na França é formado por homens gays e bissexuais (47%), seguidos por lésbicas e mulheres bissexuais (25%). Entre os heterossexuais adeptos aos relacionamentos abertos, 17% são homens e 9% mulheres.Essa escolha de vida também tem um forte marcador de classe social. Os relacionamentos abertos são vividos majoritariamente por pessoas com diploma de estudos superiores (20%) e por cidadãos que exercem profissões consideradas “intelectuais” na França (23%), como médicos, advogados, engenheiros, arquitetos, jornalistas, artistas, professores de universidade, etc.No que diz respeito à tendência política de quem rejeita a norma monogâmica, 26% vota no partido da esquerda radical França Insubmissa, 15% no Renascimento, partido centrista, do presidente Emmanuel Macron, 14% no partido socialista (esquerda mais tradicional), 12% nos ecologistas. Mas pessoas de posicionamento conservador também são adeptos de relacionamentos abertos: 11% votam no Partido Republicano (direita) e 15% no partido de extrema direita Reunião Nacional, segundo a pesquisa do Ifop.Me Too e casamento para todosO diretor do pólo Gênero, Sexualidades e Saúde Sexual do Ifop, François Kraus, avalia que os relacionamentos abertos são uma tendência que “se instala lentamente como uma alternativa a casais monogâmicos e heterossexuais tradicionais”. Segundo o especialista, o movimento Me Too, que surgiu em 2017 questionando a cultura do estupro, colocou em questão as normas conjugais tradicionais.Junto com o casamento para todos, legalizado em 2013 na França, a mobilização feminista também é apontada como a principal responsável pela evolução das identidades sexuais na França. Um outro estudo, divulgado nesta semana, do Instituto Nacional de Estudo Demográficos da França (Ined), mostra que a rejeição à heterossexualidade vem aumentando no país.A mudança é liderada por jovens, principalmente mulheres. Atualmente quase 20% das francesas entre 18 e 29 anos não se considera heterossexual: 10% são bissexuais, 5% panssexuais, 2% lésbicas e outros 2% são assexuais ou não sabe definir. Em 2015, apenas 3% das mulheres não se considerava heterossexual.Entre os homens, a tendência também é observada, mas em uma escala menor. No total, 8% dos franceses que rejeitam a heteronormatividade, 4% bissexuais, 3% homossexuais, 1% assexual ou não sabe definir. Em 2015, eles eram 2%.Segundo o diretor de pesquisa do Ined, Wilfried Rault, a heterossexualidade está "menos atraente" para uma parte dos jovens da França. Segundo ele, outros debates na sociedade, como a conscientização sobre a desigualdade de gêneros nas tarefas domésticas, também contribui para a evolução das identidades sexuais na França.
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  • Escândalo de pedofilia abala escola católica e governo francês em meio à despedida do papa Francisco
    A morte do papa Francisco provocou intensas reações na França. Enquanto muitos fiéis afirmam que sentirão falta de seu pontificado, católicos mais conservadores rapidamente viraram a página e esperam pela eleição de um sucessor alinhado às suas ideias no próximo conclave. O falecimento de Jorge Mario Bergoglio também ocorre num contexto particular: a França enfrenta o maior escândalo de pedofilia já registrado envolvendo a Igreja Católica no país. De um lado, admiradores das ideias progressistas de Francisco expressaram gratidão e admiração por sua coragem ao abordar temas polêmicos para a Igreja, como a tolerância em relação aos homossexuais, a defesa do direito à comunhão para casais divorciados, a promoção da ecologia integral como parte da doutrina social da Igreja, a atenção constante às populações vulneráveis, as críticas aos excessos do capitalismo e à perda do espírito de fraternidade. Por outro lado, entre os católicos integristas franceses, sua morte foi recebida com alívio.O jornalista de extrema direita Eric Zemmour, ex-candidato à presidência em 2022, afirmou que, para alguns católicos, o pontificado de Francisco foi percebido como um fardo, uma provação por aqueles que ainda mantêm fé na Igreja. Outro ex-presidenciável nacionalista, Philippe de Villiers, disse que Francisco era um papa "woke" que via com bons olhos uma islamização da Europa, o que é uma narrativa falaciosa, mas propagada por conspiracionistas de extrema direita. O papa defendia a tolerância religiosa com os muçulmanos e o diálogo entre religiões. A França é um país onde a defesa da laicidade, da separação entre Igreja e Estado, é muito forte. Por isso, o presidente Emmanuel Macron está sendo criticado por participar do funeral do papa no Vaticano, no sábado (26). Vários políticos de esquerda argumentam que a presença do chefe de Estado em um evento religioso pode ser vista como uma contradição ao princípio de laicidade, inscrito no primeiro artigo da Constituição Francesa. No entanto, outros defendem que a participação de Macron é um gesto diplomático e simbólico, considerando a relevância global do papa Francisco e seu impacto além da esfera religiosa. Deputados de esquerda apontaram a incoerência de Macron e da primeira-dama Brigitte estarem presentes na Praça de São Pedro, enquanto ele nunca participou, nem sequer cogitaria participar, de uma cerimônia em homenagem a um líder religioso muçulmano, judeu ou budista.O chefe do governo francês, François Bayrou, também está sendo criticado por ter decidido que amanhã as bandeiras francesas ficarão a meio mastro em homenagem ao papa. Muita gente lembrou que quando o papa João Paulo 2° morreu, em 2005, e Bayrou exercia um mandato parlamentar, ele criticou o então primeiro-ministro por colocar as bandeiras a meio mastro e ferir um princípio constitucional.Novo escândalo de pedofilia na Igreja francesaHá quatro meses no cargo, a sobrevivência política de Bayrou depende dos deputados de direita e centro, em sua maioria ligados ao eleitorado católico. Mas ele já está desgastado por um escândalo relacionado com a Igreja francesa. Pai de seis filhos, o premiê francês educou os filhos em um colégio católico nos Pirineus, chamado Notre Dame de Bétharram. Nos últimos meses, mais de 200 ex-alunos dessa escola denunciaram à Justiça terem sofrido violência física e abusos psicológicos e sexuais cometidos por padres e ex-funcionários do colégio, entre 1950 e 2010, ou seja, durante seis décadas. A mulher do atual primeiro-ministro trabalhava como professora de catecismo no estabelecimento e nunca denunciou a hierarquia à Diocese. Para completar, a filha mais velha do casal, Hélène Perlant, lançou um livro nesta semana em que detalha o grau de violência que reinava nessa escola católica e o episódio em que foi espancada por um padre, quando tinha 14 anos, durante uma viagem escolar. Ela afirma que nunca contou esse incidente ao pai, que tem longa carreira política.A quantidade de denúncias de ex-alunos é tão expressiva que o "caso Bétharram" já é considerado o maior escândalo de pedofilia ligado à Igreja Católica na França.Batismos em altaEmbora se tenha ouvido nos últimos dias duras críticas a respeito de o papa não ter ido longe o suficiente no combate à pedofilia na Igreja, o número de franceses adultos que decidem se batizar está em alta há alguns anos. O período da Páscoa é o preferido para a organização desse tipo de cerimônia nas igrejas. Uma pesquisa publicada na quarta-feira (23) pela Conferência Episcopal Francesa apontou um aumento de 45% nos batismos de adultos em 2025, principalmente na faixa etária abaixo de 25 anos, e de 33% entre adolescentes, em relação ao ano passado. No total, 10.384 adultos receberam o batismo na semana da Páscoa, e o número de batizados entre 18 e 25 anos superou o de pessoas entre 26 e 40 anos.O Episcopado francês atribui esse súbito ganho de interesse pela Igreja a um desejo de esperança em um mundo caótico e também a uma busca de pertencimento, de fazer parte de uma comunidade de pessoas com valores semelhantes. As redes sociais também desinibiram os jovens franceses para falar de fé, com vários influenciadores seminaristas e freiras, envolvidos com o proselitismo religioso.
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  • Mais da metade dos franceses afirma diminuir consumo de carne bovina
    Um estudo do instituto Opinion Way divulgado nesta quinta-feira (17) aponta que 53% dos franceses estão consumindo menos carne. Os motivos são três: o preço do produto, a preocupação com o meio ambiente e a causa animal. A pesquisa foi realizada a pedido da empresa Charal – uma das gigantes do setor agroalimentar na França – e confirma uma mudança nos hábitos alimentares da população francesa. A queda não diz respeito apenas à frequência do consumo de carne bovina, mas também na diminuição das porções. Outras pesquisas ainda apontam para uma redução de peixes, aves e de produtos de origem animal.Segundo o Opinion Way, a queda no consumo de carne bovina na França é mais pronunciada nas faixas etárias dos 45 aos 60 anos e dos 61 anos para cima. Ela é mais estável nas faixas etárias dos 26 aos 44 anos e dos 18 aos 25 anos, porque a população mais jovem já tem o hábito de consumir menos produtos de origem animal. O estudo também aponta que metade dos jovens da faixa etária dos 18 aos 25 anos não gosta mais de carne bovina.O estudo também traz outros dados sobre os hábitos alimentares dos franceses. No total, 67% das pessoas ouvidas pelo Opinion Way são onívoras, 24% são flexitarianas e 5% são vegetarianas ou veganas. Os maiores consumidores de carne bovina estão na faixa etária a partir dos 61 anos.Preço, causa ambiental e animalOs motivos que explicam a diminuição do consumo de carne bovina na França também variam conforme a faixa etária. A partir dos 45 anos, a queda ocorre devido ao aumento dos preços.Em média, o quilo da carne de gado na França custa € 14 (R$ 91). Em 2024, o valor do produto registrou um salto de quase 10% e neste ano a previsão é de um aumento entre 10% e 20%.O balanço do Opinion Way também ressalta que faixas etárias superiores valorizam produtos de maior qualidade. Desta forma, a partir dos 45 anos, os consumidores preferem sacrificar a quantidade em prol da compra de carnes mais nobres.Já entre as faixas etárias mais jovens, a diminuição é motivada pela causa ambiental e animal. Segundo a pesquisa, 50% dos entrevistados da faixa etária dos 18 aos 25 anos dizem que diminuíram o consumo de carne bovina por causa dos prejuízos ao meio ambiente relacionados à criação de gado. Além disso, 48% dos entrevistados mais jovens se opõem ao tratamento dado aos animais nas fazendas.É possível ser saudável sem comer carne?Para o endocrinologista e nutricionista Boris Hansel, do hospital Bichat, em Paris, é possível ser saudável sem comer carne vermelha. Em entrevista à Franceinfo, ele ressalta que peixes, ovos e produtos de origem vegetal podem suprir a necessidade de proteína. “A ideia não é de se proibir de comer carne, mas de saber que podemos viver sem”, defende."A carne é uma fonte importante de proteína e, se não a consumimos, é preciso compensar com outras fontes de proteína", acrescenta o nutricionista.O especialista também lembra que comer muita carne vermelha representa um alto risco de desenvolver câncer colorretal. Por isso, ele recomenda limitar o consumo a menos de 500 gramas por semana: “Carne vermelha pelo prazer, sim; carne vermelha pela saúde, não”, salienta.Nos últimos 20 anos, a queda do consumo de carne bovina na França foi de 19%. Nos anos 1980, a média de consumo por pessoa adulta era de 100 quilos por ano. Atualmente, a média é de pouco mais de 83 quilos por ano.A mudança nos hábitos dos franceses também leva o setor do agroalimentar a se adaptar, revendo estratégias. Algumas empresas estão transformando a sua forma de produção para demonstrar respeito às normas ambientais e à causa animal. Já outras veem uma oportunidade para diversificar, investindo, por exemplo, no setor da proteína vegetal ou em produtos veganos.
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  • Radicalismo de Donald Trump cria desconfiança inédita de europeus nos Estados Unidos
    A guerra comercial do presidente americano, Donald Trump, tem ampliado o boicote de produtos americanos na França. As reservas de viagens para os Estados Unidos neste verão, em julho e agosto, para Nova York, Los Angeles e São Francisco, caíram de 23% a 26% em relação ao ano passado. O aumento dos preços das passagens aéreas influi nesse recuo, mas as tensões geopolíticas, a guerra comercial e a atitude de desprezo de Trump pelos europeus abriu um fosso entre as duas regiões.  O movimento anti-Trump e de boicote aos Estados Unidos já tem alguns meses. Começou desde que o republicano se aproximou do presidente russo, Vladimir Putin, cedendo às pressões de Moscou nas negociações para um cessar-fogo na Ucrânia, em condições desfavoráveis aos ucranianos – sem resultados até o momento –, e só foi piorando com as repetidas humilhações aos europeus, chamados de "aproveitadores" e "parasitas" pela equipe de Trump, do vice J.D. Vance, ao secretário da Defesa, Pete Hegseth, e Elon Musk. Na segunda quinzena de março, antes da tempestade tarifária, uma pesquisa Ifop já mostrava que 62% dos franceses apoiavam o boicote aos produtos americanos, e 32% estavam evitando certas marcas, como Coca-Cola, McDonald's, Tesla e Starbucks. Essa reação pode ser questionada, uma vez que essas empresas também geram empregos na França. Mas a rejeição é fortalecida por uma outra tendência: a do consumo responsável. Atualmente, 81% dos franceses preferem consumir produtos locais para apoiar a economia francesa e a transição ecológica.É curioso que a taxa de boicote chega a 51% entre pessoas que se declaram "muito feministas" e 55% entre aquelas que se definem como "muito progressistas" em questões sociais. Outro sinal de boicote: as reservas de viagens para os Estados Unidos neste verão, em julho e agosto, recuaram. Todos perdem com essa crise, a começar pelos americanos, que além da ameaça de inflação agora percebem uma outra consequência: os Estados Unidos estão perdendo a posição de economia mais segura do planeta. O aumento dos juros dos títulos da dívida (US$ 29 trilhões), desde quarta-feira (9), demonstra o abalo estrutural na confiança dos investidores pelos ativos americanos e no próprio dólar como reserva de valor. Alemanha começa a repatriar reservas de ouro dos EUAA Alemanha e outros investidores europeus estão repatriando as reservas de ouro que mantêm no banco central americano (Federal Reserve), por perda de confiança e pelo temor de decisões arbitrárias de Trump na área jurídica. O republicano voltou atrás e suspendeu por 90 dias as tarifas adicionais que tinha imposto à União Europeia. Ele baixou de 20% para 10%, no mesmo dia em que elas entraram em vigor. Mas aço, alumínio e veículos continuam com 25% de sobretaxas. Para os governos europeus, essa decisão não representa um recuo de Trump, mas talvez só uma forma dele atacar com mais virulência no futuro.O presidente Emmanuel Macron fez esse alerta nesta sexta-feira: serão três meses de profunda incerteza para as empresas e nenhuma garantia. A União Europeia deve continuar trabalhando em futuras retaliações, disse Macron. Apesar do pessimismo generalizado, a maioria dos analistas franceses aprovaram a reação moderada da União Europeia, que, sem entrar numa escalada, taxou alguns produtos americanos, e suspendeu em seguida quando Trump se mostrou disposto a negociar. A imagem da UE como um bloco dividido, incapaz de agir unido e lento na tomada de decisões está melhorando, por obra do Trump. Desta vez, a Comissão Europeia antecipou os cenários e tudo está bem amarrado com os líderes dos 27 países. Na segunda-feira (14), o secretário europeu do Comércio, o eslovaco Maros Sefcovic, vai a Washington negociar as tarifas. Os europeus já aceitaram pagar mais caro pelo gás liquefeito importado dos EUA, uma cobrança de Trump para reequilibrar a balança comercial. Atualmente, a Europa ainda precisa dessa fonte de energia, mas essa despesa tende a diminuir com o avanço da transição energética. Pouco importa se a primeira-ministra de extrema direita da Itália, Georgia Meloni, vai aparecer durante a semana posando ao lado de Trump, na Casa Branca. Meloni não tem meios de romper com a unidade dos europeus nesse momento.Enxurrada de produtos chineses no blocoA Comissão Europeia está bastante preocupada com a possível enxurrada de produtos baratos provenientes da China. No ano passado, só na França, os sites chineses Shein e Temu faturaram juntos cerca de R$ 32 bilhões (€ 4,8 bilhões), equivalentes em número de remessas ao dobro de 2023 e três vezes mais do que 2022. Até agora, o maior mercado desses varejistas era os Estados Unidos, com vendas estimadas em US$ 46 bilhões. Mas com a sobretaxa americana de 145% sobre as importações chinesas, e a retaliação de 125% do governo chinês, a União Europeia e seus 450 milhões de consumidores se tornam um mercado estratégico para Pequim. Há dois anos, os europeus negociam com a China o fim de uma isenção alfandegária para remessas inferiores a R$ 1.000 (€ 150). A medida vai na mesma linha da "taxa das blusinhas" de Trump. Enquanto esta isenção não desaparece, a UE promove investigações e aplica multas a essas plataformas chinesas por falsificação de produtos e descumprimento de regras de segurança.O principal objetivo da Comissão é tratar de forma global o excedente industrial chinês, seja em relação aos carros elétricos, painéis solares, remédios, às torres eólicas ou máquinas industriais. Na terça-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já conversou por telefone sobre o assunto com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang. As rodadas de diálogo continuarão até a Cúpula China-UE, prevista em junho.Ilha de democraciaNesse momento de mudança na ordem geopolítica internacional, muitos se questionam se pode haver uma maior aproximação da UE com a China. Nesta sexta, o presidente Xi Jinping defendeu que Pequim e o bloco europeu devem "resistir juntos" a qualquer coerção unilateral dos Estados Unidos. Mas a possibilidade de um estreitamento das relações entre europeus e chineses é complexa e depende de vários fatores. O apoio econômico e diplomático da China à Rússia na guerra na Ucrânia não é aceito pela opinião pública na Europa. O desequilíbrio de balança comercial entre a China e o bloco é gigantesco, mas juntos os 27 países ainda são a terceira região mais rica do mundo. Questões de direitos humanos e transparência continuam sendo barreiras para uma aliança mais profunda. Os europeus acreditam que, apesar do momento difícil que estão atravessando, o mais grave desde o fim de Segunda Guerra Mundial, o bloco ainda é uma região com forte potencial de recuperação de competitividade, por causa de um de seus principais ativos: a democracia. Entre os desvarios de Trump e sociedades controladas por governos autoritários, como é a China, os europeus pretendem manter sua atratividade pela estabilidade de regras.
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Über Um pulo em Paris

Direto da redação da Rádio França Internacional em Paris, em parceria com a Rádio CBN, Adriana Moysés e Daniella Franco contam as novidades e curiosidades de um dos lugares mais visitados do mundo.
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